Acervo pessoalMorreu no sábado (3/3), aos 56 anos, em decorrência de complicações desencadeadas por uma esclerose lateral amiotrófica, a arqueóloga gaúcha Denise Pahl Schaan. Formada em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a pesquisadora mudou-se para Belém, no Pará, em 1997, com o objetivo de estudar coleções de cerâmica Marajoara do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Denise trabalhava no Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), dedicando-se ao desenvolvimento de pesquisas em antropologia na Amazônia voltadas ao estudo de sociedades complexas, ecologia histórica, arqueologia da paisagem, antropologia sonora e visual, etnografia audiovisual, gênero, patrimônio cultural e arte.
Mestre em história pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutorada em antropologia social pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, ela também fazia etnografia audiovisual, produzindo filmes documentais e roteiros.
“Não obstante as limitações impostas por seu estado de saúde, Denise jamais deixou de se dedicar aos compromissos acadêmicos. Algo que surpreendeu a todos nós, que acompanhamos seus desafios nos últimos meses”, escreveu a arqueóloga Marcia Bezerra de Almeida, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA, idealizado pela pesquisadora gaúcha, em nota publicada no site da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), que Denise presidiu entre 2007 e 2009. “Denise tinha uma impressionante capacidade de trabalho, o que é notório face a sua volumosa produção acadêmica. Era uma pesquisadora incansável, obstinada, disciplinada e sempre preocupada com a excelência”, completa Marcia.
A arqueóloga escreveu ao todo 14 livros, mais de 40 artigos, cerca de 40 capítulos de livros, entre outras produções acadêmicas. Dentre suas principais pesquisas, destacam-se as com geoglifos, grandes desenhos feitos no solo da floresta por culturas pré-colombianas. Os resultados de um desses trabalhos, publicado em 2011, ajudaram a ampliar a cronologia da cultura amazônica sobre o fenômeno (ver Pesquisa FAPESP nº 186). “Essa foi talvez a mais importante descoberta arqueológica da região amazônica”, destaca o paleontólogo Alceu Ranzi, hoje professor aposentado na Universidade Federal do Acre (Ufac). “Denise foi leal, sincera, produtiva e ética com seus parceiros brasileiros e de outras nacionalidades. Com suas pesquisas, artigos, livros e alunos, ela marcou indelevelmente a arqueologia da Amazônia e do Acre em particular.”
Ela também se dedicou à ocupação pré-histórica na região do alto rio Anajás, tendo descoberto nove sítios arqueológicos da cultura marajoara e estudou indícios de povoamentos na região de Santarém e Belterra, no Pará, onde encontrou sinais de povoações antigas em platôs, longe dos grandes rios (ver Pesquisa FAPESP nº 253). Seus achados indicaram a possibilidade de terem existido sociedades amazônicas pré-colombianas hierárquicas vivendo à base de manejo da pesca, uma estrutura social que habitualmente se considera associada à agricultura.
“Denise era uma liderança importante nos campos da arqueologia e da antropologia no Brasil e no mundo”, escreveu a historiadora Jane Felipe Beltrão, da UFPA, em outra nota para a SAB. “Ela certamente foi uma das grandes contadoras da história da Amazônia”, completou Marcia Bezerra.
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