Com 130 anos, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é uma das mais importantes instituições de pesquisa do país. Criado no final da era imperial, o IAC continua sendo um dos motores da agricultura paulista. As atividades de pesquisa, iniciadas com o estudo da química de solos e de fertilizantes para cafeicultura, o desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar e frutas, rapidamente ganharam força e raízes e chegam a 2017 mostrando como resultados o desenvolvimento de mais de mil cultivares, milhares de trabalhos científicos, treinamento de pesquisadores e muitas outras ações determinantes para a pujança do agronegócio no estado de São Paulo.
Com 143 pesquisadores, o IAC obteve, em 2016, 32% de seus recursos de parcerias com o setor privado, demonstrando sua capacidade de entrega de resultados com impacto econômico. Capacidade aliás demonstrada em vários estudos detalhados e rigorosos.
Já em 1972, os pesquisadores Harry Ayer (Universidade do Arizona) e G. Edward Schuh (Universidade Purdue) publicaram o trabalho “Social rates of return and other aspects of agricultural research: The case of cotton research in São Paulo, Brazil”1, estudando justamente o impacto dos investimentos em pesquisa sobre algodão desenvolvida no IAC. Destacam os autores que São Paulo desenvolveu, desde 1924, um programa singular e efetivo para aumentar a competitividade dos produtores de algodão no estado e que os dispêndios no programa de pesquisas haviam sido em valor superior àquele aplicado pelos Estados Unidos no programa de milho híbrido daquele país. Ayer e Schuh apontaram que a taxa de retorno para a sociedade brasileira fora excepcional devido aos benefícios em exportações aumentadas e na redução de preço local.
Outros autores têm estudado a mensuração dos benefícios obtidos com a atividade de pesquisa agrícola. No setor citrícola, no qual o IAC tem enorme impacto, Margarida G. Figueiredo, André Lahoz Mendonça de Barros e Junia C.P.R. Conceição calcularam, no trabalho “Retorno econômico dos investimentos em P&D na citricultura paulista”2, que, para cada R$ 1,00 de recursos públicos aplicados em P&D no setor, obtém-se um ganho de produção de R$ 13,67.
Além do efeito contínuo da pesquisa do IAC sobre o agronegócio paulista e brasileiro, evidenciado no estudo acima citado, algumas vezes foi a pesquisa do Instituto Agronômico que evitou o desastre. Por exemplo, no Relatório da FAPESP de 19723, o então diretor-presidente, professor Jayme Arcoverde, destaca que:
“Os pesquisadores do Instituto Agronômico, que já haviam conseguido debelar brilhantemente a ‘tristeza’ dos laranjais paulistas, obtiveram, recentemente, o ressurgimento dos nossos laranjais por intermédio dos clones nucelares. É do conhecimento geral que no período de apenas um ano, ou seja, em 1972, nossa exportação de frutas cítricas, ‘in natura’ e principalmente sob a forma de sucos concentrados, atingiu cerca de 50 milhões de dólares.”
Este caso ilustra o fato, nem sempre bem compreendido, de a ciência e a tecnologia avançarem por esforços cumulativos e de longo termo. No caso dos clones nucelares, citados pelo professor Arcoverde, o esforço vinha desde 1938, quando Sylvio Moreira introduziu a técnica no Brasil4.
Poderíamos também lembrar a tradição de melhoramento genético do café, iniciada já nos anos 1930, quando Carlos Krug e depois Alcides Carvalho começaram a longa tradição do IAC nessa área, contada neste suplemento da revista Pesquisa FAPESP (página 10). Muitos outros exemplos haveria a citar, para ilustrar a relevância do IAC para São Paulo. Neste suplemento conta-se como café, pêssego, uva, laranja, cana, feijão, arroz e mais dezenas de culturas são plantadas e colhidas eficientemente no estado de São Paulo, e no Brasil, graças aos 130 anos de trabalho dos pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas. Parabéns a eles e ao IAC.
Artigos científicos
1. YER, H. G; SCHUH G. E. “Social rates of return and other aspects of agricultural research: The case of cotton research in São Paulo, Brazil”, American Journal of Agricultural Economics, v. 54,
n. 4, part 1, p. 557-569. nov. 1972.
2. IGUEIREDO, M. G.; MENDONÇA DE BARROS, A. L.; J. C. P. R., Conceição. “Retorno econômico dos investimentos em P&D na citricultura paulista”, RESR, Piracicaba-SP. v. 50, n. 3, p. 493-502. jul/set 2012.
3. APESP, Relatório de atividades 1972, p. 6 (consultado em 14 de agosto de 2017).
4. Salibe, A.A., “Clones Nucelares de Citros no Estado de São Paulo”, Laranja, v.1-2,
p. 117-136 (2009).