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Economia

Múltiplas frentes no combate à pobreza

Nobel de Economia é concedido a trio de pesquisadores que propôs metodologia inovadora para avaliar a eficiência de políticas públicas

Premiados em economia: Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer

Niklas Elmehed / Nobel

Três pesquisadores que ajudaram a desenvolver métodos de pesquisa inovadores sobre a pobreza e as formas de combatê-la foram agraciados com o Nobel de Economia deste ano, prêmio instituído pelo Banco Central da Suécia (Sveriges Riksbank), em 1969, em memória a Alfred Nobel.  O norte-americano Michael Kremer, da Universidade Harvard, o indiano radicado nos Estados Unidos Abhijit Banerjee e a franco-americana Esther Duflo, ambos do Massachusetts Institute of Technology, vão dividir o prêmio de 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a R$ 3,7 milhões.

Na década de 1990, Kremer, de 54 anos, Banerjee, de 58, e Duflo, de 46, apostaram em métodos experimentais então pouco usuais na pesquisa em economia para descobrir formas de tirar um grande número de indivíduos da situação de pobreza extrema. Fatiaram o problema em múltiplas perguntas de pesquisa relacionadas à pobreza e começaram a realizar experimentos em comunidades ou países a fim de avaliar que práticas e políticas públicas funcionam melhor para resolver cada aspecto.

“Eles incorporaram à análise de políticas públicas métodos usados na medicina, como a realização de ensaios randomizados”, diz o economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, instituição de ensino superior e pesquisa sediada em São Paulo.  Segundo ele, a mesma abordagem utilizada, por exemplo, no estudo sobre a eficiência de medicamentos, com a seleção aleatória de um grupo que vai receber o princípio ativo e um grupo de controle que vai receber um placebo, foi aplicada na busca das melhores estratégias para combater a mortalidade infantil ou aumentar a frequência escolar de crianças. “Essa abordagem se disseminou na economia nas últimas décadas e ajudou a desenvolver uma área conhecida como economia do desenvolvimento. Esses métodos de tratamento e controle para avaliar políticas ganharam importância no mundo inteiro e, aqui no Brasil, foram incorporados à formação dos economistas em cursos de graduação, mestrado e doutorado.” Para Menezes, ao dar visibilidade para linhas de pesquisa nessa área, o Nobel enfatiza a necessidade de os economistas e a sociedade investirem mais na produção de conhecimento que ajude as pessoas a saírem da pobreza.

“As descobertas da pesquisa dos ganhadores do prêmio de ciências econômicas de 2019 melhoraram dramaticamente nossa habilidade de combater a pobreza na prática”, afirmou a Academia Real Sueca de Ciências, responsável pela premiação. O comitê do Nobel mencionou como exemplo um estudo de autoria de Kremer que analisou o desempenho escolar de grupos de crianças no Quênia na década de 1990. Uma das conclusões do trabalho é que a oferta de mais livros para os alunos não tinha impacto nas notas, evidenciando que a escassez de recursos não explicava sozinha os problemas de aprendizagem. Já Duflo e Banerjee, que são casados, trabalharam com estudantes da Índia e identificaram uma barreira importante para o aprendizado de crianças: métodos de ensino criados sem levar em conta as necessidades dos alunos. O treinamento de tutores para alunos de baixo desempenho aumentou a performance das crianças de modo notável e duradouro. Recentemente, publicaram um estudo intitulado “Usando fofocas para espalhar informações”, em que moradores influentes de vilas da Índia foram selecionados para espalhar informações favoráveis ao uso de vacinas e conseguiram elevar as taxas de imunização na comunidade. Duflo também mantém colaborações com Kremer – fizeram juntos guias sobre como realizar experimentos de campo randomizados. A economista, nascida na França, é a pessoa mais jovem a ganhar um Nobel de Economia e a segunda mulher laureada na história do prêmio – a primeira foi Ellinor Ostrom, em 2009 (ver Pesquisa FAPESP nº 165).

Para Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esse campo de pesquisa ganhou espaço nas últimas décadas à medida que o combate à pobreza e à desigualdade passou a se basear em estratégias com objetivo preciso. “É a chamada focalização, que preconiza um foco muito específico em grupos mais vulneráveis para obter resultados robustos e significativos, em programas que geralmente têm a participação de organizações não governamentais atuando junto a esses grupos”, afirma. O Brasil, observa Dedecca, tem sido um celeiro de pesquisas desse tipo, incluindo trabalhos sobre o impacto de programas de renda mínima ou prevenção ao HIV que beneficiaram milhões de pessoas.

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