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Memória

Museu com sete vidas

Pioneiro na Amazônia, o Emílio Goeldi renasceu várias vezes em 138 anos

Além dos conhecidos estudos sobre fauna, flora e minerais, todos aqueles naturalistas estrangeiros que percorreram o Brasil no século 19 deixaram uma importante contribuição para a ciência do país – a motivação para a criação de um museu de história natural na Amazônia, que poderia servir como apoio às expedições e até formar pesquisadores. Assim começou a trajetória pioneira e errática da primeira instituição científica da região e o segundo mais antigo museu de ciências do país (o primeiro é o Museu Nacional, no Rio de Janeiro).

Em 1861, foi proposto um artigo aditivo à Lei do Orçamento Provincial para a criação de uma instituição desse tipo em Belém, fato só concretizado em 1866 com o nome de Museu Paraense. O momento era propício: a borracha estava em alta e havia uma classe emergente interessada em ciências, publicações, e nas visitas de naturalistas e artistas estrangeiros à Amazônia.

Essa atenção e apoio do governo e da sociedade para o museu duraram pouco. Extremamente dependente de seu primeiro diretor, Domingos Soares Ferreira Penna, a instituição foi fechada logo após sua morte, em 1888. Três anos depois, o museu renascia – o primeiro de vários renascimentos. Em 1894, assumiu a direção o zoólogo suíço Emílio Goeldi (1859-1917), que posteriormente viria a lhe dar o nome e a transformar o centro em uma instituição científica de fato, com uma estrutura recheada de cientistas e técnicos muito produtivos.

Foram criados o Parque Zoobotânico e o Serviço Meteorológico. Goeldi iniciou a publicação de boletins científicos, excursões por toda a região amazônica e a coleta para formar as primeiras coleções zoológicas, botânicas, geológicas e etnográficas. O suíço incorporou-se à luta contra a febre amarela publicando, a partir de 1902, vários artigos sobre a classificação e biologia dos mosquitos transmissores da doença – simultaneamente, portanto, aos trabalhos de Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. O museu tornou-se pioneiro ao contratar uma mulher para uma instituição pública no Pará, em 1905, a zoóloga alemã Emília Snethlage, a última pesquisadora a sair antes da crise econômica da década de 1920.

Até 1930, o museu ficou em total abandono. A partir daí começou a se reerguer e ganhou definitivamente o nome de Museu Paraense Emílio Goeldi. Outras graves crises vieram, mas a instituição se manteve ativa, criando novos programas, intensificando os estudos sobre etnologia e apostando em pesquisas arqueológicas sistemáticas. Nas últimas duas décadas do século 20, o museu recebeu investimento público, mas também buscou se expandir por meio de ajuda internacional e, em 2003, pelo segundo ano consecutivo, os recursos extra-orçamentários (R$ 6,7 milhões) superaram os repassados pelo Tesouro (R$ 4,4 milhões).

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