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Laboratório Móvel

Na porta da fábrica

Cerca de 3.000 micro e pequenas empresas do setor de transformação do plástico, situadas no Estado de São Paulo, começam a ver luz no fim do túnel. Hoje, um dos principais problemas enfrentados por esse contingente, que representa cerca de 80% da indústria do plástico no estado, é a dificuldade de acesso à informação e às novas tecnologias, o que compromete a qualidade de seus produtos e impede a conquista de novos mercados. A partir deste mês, essas empresas passam a entrar no Prumo da tecnologia. Não se trata apenas de força de expressão.

Prumo – Projeto de Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico às Pequenas Empresas do Setor Plástico é um serviço de apoio tecnológico que vai até a empresa, levando novos conhecimentos aos micro e pequenos empresários. As unidades móveis são veículos adaptados com equipamentos laboratoriais importados e de última geração (de que a grande maioria das empresas ainda não dispõe), para a realização de ensaios físicos e mecânicos em matérias-primas, processos e produtos acabados.

A novidade faz parte de um projeto pioneiro, resultante de uma parceria firmada entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Sebrae – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo, e o Instituto Nacional do Plástico (INP), com o apoio da FAPESP, no âmbito do Programa Inovação Tecnológica em Parceria. O objetivo é contribuir para a elevação tecnológica das empresas transformadoras de plástico – uma das principais matérias-primas do mundo -, preparando-as para ganhar novos mercados, inclusive os de exportação.

Produção e pesquisa
“No mundo em que vivemos não há competitividade sem adensamento tecnológico e a experiência do Prumo representa este necessário entrosamento entre a produção e a pesquisa”, salientou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Celso Lafer, durante o lançamento do projeto, no último dia 8 deste mês de março, na abertura da 7ª Brasilplast – Feira Internacional da Indústria do Plástico, realizada no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.

Após a concorrida solenidade, que contou ainda com a presença do vice-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do secretário estadual de Ciência e Tecnologia, José Aníbal, do diretor presidente da FAPESP, Francisco Romeu Landi, diretores do IPT, Sebrae e INP, e outrasautoridades, foram apresentadas ao público as duas primeiras vans que irão levar informações tecnológicas às empresas. Os veículos estão equipados com 13 tipos diferentes de máquinas e contam com uma equipe formada por um engenheiro e um técnico, em cada uma das vans. As atividades de campo começaram no dia 15 deste mês.

Prumo foi criado por iniciativa do IPT, a partir de uma idéia do engenheiro Vicente Mazzarella, diretor técnico do Instituto, e coordenador do projeto. Há quatro anos, durante um trabalho de consultoria realizado na Colômbia, com 20 empresas da área de fundição, através de convênio com a Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas, o engenheiro percebeu quanto fazia falta o apoio de equipamentos laboratoriais para demonstração. Assim nasceram os laboratórios móveis, desenvolvidos no Brasil posteriormente.

Atendimento gratuito
“Este é um projeto aplicável a qualquer setor: fundição, tratamentos de superfície, borracha, móveis, calçados, setores que possivelmente vamos começar a atender após o trabalho no setor plástico”, adianta Mazzarella. Concebido nos últimos três anos, o programa deverá realizar cerca de 175 atendimentos por ano, com suas duas unidades móveis, que contam com três equipes técnicas, revezando-se a cada 15 dias. As primeiras 350 empresas inscritas serão atendidas gratuitamente. Mazzarella informou que o mercado potencial em todo o estado é formado por cerca de 3.000 micro e pequenas empresas transformadoras de plástico.

Para dar conta desse universo, seriam necessárias cerca de 30 dessas unidades móveis, o que tornaria possível atender cada empresa uma vez por ano. Na fase experimental, os técnicos visitaram 20 fábricas do setor e identificaram uma série de dificuldades que poderão ser facilmente resolvidas com o apoio dos laboratórios. Cada visita do laboratório móvel deve durar de um a três dias, oportunidade em que a equipe de atendimento pode indicar soluções para problemas relativos aos diferentes componentes que entram na formulação do plástico ou dar sugestões quanto ao processo de industrialização (variáveis de temperatura e pressão, por exemplo). E ainda contribui indústrias de porte médio têm acesso a esse equipamento, que custa cerca de US$ 45 mil.

Outro equipamento de grande utilidade é a máquina universal de ensaios, que realiza testes mecânicos nos materiais, para avaliar suas propriedades de tração, flexão e compressão. Maria do Carmo destaca, ainda, o aparelho para ensaios de resistência ao impacto, que funciona assim: o equipamento quebra o material por um sistema de pêndulo, com peso definido, e verifica quanto este material absorveu de energia por superfície para se quebrar, determinando sua resistência ao impacto.

Foi identificada, também, nessa fase experimental, uma outra indústria que faz injeção de peças pequenas para o setor automotivo, utilidades domésticas e embalagens, e tem problemas de acabamento. Nesse caso, o laboratório móvel tem condições de verificar a fluidez da matéria-prima adquirida pela empresa e a adequação da montagem da peça, e, ainda, se há necessidade de ajuste no processo de injeção. Há, também, os casos de empresas que querem comprar equipamentos para seus laboratórios, mas necessitam de apoio na hora de definir o que comprar e como treinar suas equipes. O Prumo, segundo o engenheiro Mazzarella, foi pensado para resolver todas essas situações.

“Nosso apoio é importante por dois aspectos: as pequenas e microempresas vão ter mais condições de resistir à invasão dos produtos importados e realizar o que chamamos de substituição de importações. E, se forem capazes de resistir internamente, muitas vão ter condições de exportar”, analisa. Outra conseqüência será a redução de refugos nas empresas, uma vez que as peças produzidas que não atingem o nível desejado vão para a reciclagem. Além disso, com o apoio tecnológico, os produtos acabados terão melhor qualidade e as empresas serão mais seletivas com os materiais de partida (matéria-prima virgem ou material reciclado). Resultado: redução de custos e aumento do faturamento.

Tecnologia aplicada
O superintendente do IPT, Plínio Assmann, ressaltou, na solenidade de lançamento do projeto, que a parceria do Instituto foi iniciada com as empresas do setor plástico devido à grande receptividade demonstrada pelo Instituto Nacional do Plástico, que congrega as principais entidades representativas da categoria. “O empresário brasileiro precisa ser avesso a mudanças e estar aberto à evolução, e o INP é um promotor dessa abertura no setor.” Continuou: “O Sebrae é um parceiro nato e a FAPESP é a grande motivadora”. Para esse projeto, a FAPESP está liberando recursos da ordem de R$ 530 mil, o Sebrae, R$ 867 mil, e o IPT, R$ 196,6 mil.

Para Assmann, a FAPESP dá um passo muito significativo no campo da tecnologia aplicada, “na medida em que financia projetos de grande impacto social”. O Prumo, segundo ele, vai beneficiar mais de 60% das empresas do setor plástico, o que significa um contingente de 120 mil empregos. Já o presidente do INP, Alexandrino de Alencar, acredita que esse apoio tecnológico vai refletir, no futuro próximo, na melhoria da saúde das empresas, aumentando sua produtividade e competitividade. Entusiasmado, o diretor do Sebrae, Edson Fermann, adiantou que a instituição vai trabalhar, nos próximos dois anos, em projetos de parceria.

Disse também que o Projeto de Unidades Móveis está dentro das metas estabelecidas pelo Sebrae, que tem como objetivo trabalhar setorialmente e regionalmente. OPrumo é um projeto especial do IPT, que conta com a supervisão geral da diretora adjunta para Projetos Especiais, Mari Tomita Katayama, sob a gerência de Maria do Carmo Zorzenon Simi. Participam também do projeto os pesquisadores Armênio Gomes Pinto e Evelyne Vaidergorin, e o diretor da Divisão Química do IPT, Antonio Bonomi.

Entre no da Tecnologia
Veja como solicitar ao IPT uma visita do laboratório móvel:

1. A empresa interessada no programa deve solicitar o atendimento à Central de Operação do Prumo, pelo telefone 0800-557790.

2. Um técnico do IPT vai até a empresa em data previamente agendada para entrevista e diagnóstico preliminar.

3. A Central de Operação avisa qual a data do atendimento tecnológico solicitado. No dia marcado, a unidade móvel visita a empresa.

4. Durante o atendimento, a empresa deverá destacar um responsável da área técnica/produtiva para atuar junto aos técnicos do IPT, permitir a realização das modificações propostas e fornecer insumos, energia elétrica, entre outros itens necessários aos trabalhos.

5. Três meses depois da primeira visita, será feito novo contato para avaliação dos resultados alcançados. A empresa que tiver implementado todas as ações receberá um atestado de participação assinado pelas entidades parceiras.

O IPT compromete-se a manter sigilo sobre todas as informações a que tiver acesso.
O pesquisador Vicente Mazzarella, 67 anos, é engenheiro metalurgista, formado pela Escola Politécnica da USP. É pós-graduado em Metalurgia Física pela Carnegie Tech, em Pittsburgh, Estados Unidos, e em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, São Paulo. Atualmente, é diretor técnico do IPT.

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