Traços que surgem a lápis de forma já bem detalhada são precedidos de observação atenta, que pode ser realizada com auxílio de lupa ou até de microscópio. O esboço é então coberto por tinta nanquim ou aquarela, evidenciando aspectos que raramente seriam vistos em um registro fotográfico. Foi dessa forma que, por três décadas, a artista plástica e ilustradora Maria Cecília Tomasi documentou espécies vegetais e apoiou pesquisas científicas desenvolvidas no Instituto de Botânica de São Paulo, onde também trabalhou como curadora do acervo de ilustrações, desenhos e pinturas.
“A ilustração permite uma abordagem bastante específica que evidencia aspectos gerais e, ao mesmo tempo, detalhados de cada família e espécie, o que é bastante valorizado na taxonomia e classificação de plantas”, afirma a ilustradora, agora aposentada do instituto. Nascida na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, Tomasi se mudou para a capital depois de concluir a graduação em educação artística. Em 1981, foi aprovada em um concurso do instituto, que na época buscava desenhistas para compor seu quadro de colaboradores. “Prestei o concurso sem saber muito bem o que ia fazer lá”, relembra Tomasi. “Logo passei a entender qual seria o meu trabalho e a ficar cada vez mais interessada pela reprodução das diferentes espécies de plantas.”
Elaborados na maior parte das vezes com nanquim, os desenhos eram utilizados para ilustrar artigos produzidos pelos cientistas do instituto. “Como a impressão de revistas coloridas era mais cara, desenhávamos sempre em preto e branco”, recorda. O aperfeiçoamento técnico aconteceu em 1993, durante uma temporada no Royal Botanic Gardens, Kew, em Londres, Inglaterra. Lá, durante seis meses Tomasi frequentou um curso de aquarela botânica promovido pela Fundação Botânica Margaret Mee, artista inglesa (1909-1988) que viveu em São Paulo e integrou o Instituto de Botânica nos anos 1960. “Foi em Londres que comecei a usar cor em parte dos meus desenhos”, conta. As técnicas de coloração aprendidas no curso abriram novas oportunidades de trabalho, como a ilustração de livros e revistas.
Os traços de Tomasi adquirem consistência a partir da observação de plantas vivas, herborizadas – técnica que consiste na prensagem e secagem de material vegetal – ou conservadas em soluções de fixação. “Fotografias podem ajudar, mas a observação se torna mais difícil pela ausência da tridimensionalidade”, explica. “As formas variam bastante. Dependendo da necessidade de cada pesquisador, vão desde as básicas, com traços bem simples, até aquelas ricas em detalhes”, completa.
Tomasi, que atualmente ensina a técnica em cursos privados, perdeu a conta de quantos trabalhos realizou em seus 40 anos de atividade. “Muitas das ilustrações ficaram com os pesquisadores. Além de integrar os artigos científicos, os desenhos também são usados em aulas e congressos”, conta. Em 2010, em reconhecimento por sua contribuição para o campo da investigação botânica, pesquisadores do Instituto de Botânica e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro batizaram de Anthurium tomasiae uma nova espécie de antúrio, recolhida em região de Mata Atlântica, na serra da Bocaina, interior de São Paulo.
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