Imprimir Republicar

Covid-19

CoronaVac evita 78% dos casos leves da doença em testes no Brasil

Vacina desenvolvida na China em parceria com o Instituto Butantan reduziu substancialmente a necessidade de hospitalização

Linha de envase do Instituto Butantan, usada para soros e outras vacinas e agora para preparar as doses da CoronaVac para uso no Brasil

Butantan

A análise inicial dos testes da CoronaVac no Brasil, executados pelo Instituto Butantan, indica que a vacina experimental contra Covid-19 produzida pela empresa chinesa Sinovac tem uma eficácia de ao menos 78% para proteger contra a doença. Dos participantes imunizados que contraíram o vírus, 78% não tiveram qualquer sintoma da Covid-19 – os 22% restantes apresentaram a forma leve, necessitando no máximo atendimento médico ambulatorial. Nenhum dos participantes que recebeu a CoronaVac desenvolveu as formas moderada ou grave nem teve de ser internado, de acordo com os resultados parciais anunciados em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira, dia 7, no Palácio dos Bandeirantes, e divulgados no portal do governo estadual.

O instituto não forneceu mais detalhes sobre os resultados da fase 3 de testes clínicos no Brasil, que envolveu 12.476 voluntários (funcionários da área da saúde) com idade mínima de 18 anos. Não foi divulgado, por exemplo, quantos participantes do estudo brasileiro contraíram o vírus e, destes, quantos haviam sido imunizados com a CoronaVac ou recebido placebo – formulação sem efeito farmacológico.

Testes clínicos já concluídos de outras vacinas, como as dos laboratórios Pfizer, Moderna e AstraZeneca, apresentaram taxas de prevenção da Covid-19 entre 62% e 95%. Nenhuma delas foi aprovada no Brasil, embora já sejam aplicadas em mais de 40 países. Por causa da forma como foram planejados e executados, os testes clínicos já concluídos mostram que as vacinas, entre elas a CoronaVac, impedem as pessoas de adoecer (desenvolver Covid-19). Ainda não se sabe, porém, se elas também evitam a infecção pelo coronavírus.

Segundo Dimas Covas, diretor do Butantan, os resultados das diferentes formulações não podem ser comparados porque os estudos adotaram definições distintas de caso – quantos sintomas uma pessoa precisa ter para ser considerada doente – e de eficácia das vacinas em avaliação, que foram testadas em grupos também distintos. No Brasil, a CoronaVac foi avaliada somente em funcionários da saúde, cujo risco de contrair a Covid-19 é quatro vezes maior do que o da população geral. “Os detalhes do estudo serão divulgados após a análise da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, disse Covas em entrevista a Pesquisa FAPESP.

O acordo com a Sinovac foi assinado em abril e os testes começaram em julho, com a participação de 16 centros médicos em 8 estados. Foi um estudo duplo-cego: nem os médicos nem os participantes sabiam se o que estavam aplicando ou recebendo era placebo ou a própria vacina; essa informação é conhecida apenas quando os resultados são analisados.

“Quem recebeu a vacina não apresentou nenhum caso grave e nenhum caso moderado de Covid-19”, ressaltou Covas. Em consequência, infere-se que o imunizante também evite mortes. “A vacina poderá reduzir a mortalidade e os custos de tratamento”, observou o infectologista Sergio Cimerman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, um dos centros que participaram dos testes de avaliação da eficácia, durante a coletiva.

Os testes de avaliação da vacina continuam no Brasil, com a inclusão de novos voluntários, principalmente com idade acima de 60 anos, informou Covas. As pessoas vacinadas serão acompanhadas por até dois anos, para se conhecer eventuais efeitos indesejados, caso ocorram, e aferir quanto tempo dura a imunidade adquirida.

Na sexta, dia 8, a Anvisa recebeu os pedidos de aprovação emergencial da CoronaVac, que deverá ser produzida no país pelo Butantan, e da vacina criada pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, que será fabricada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro. O prazo para a resposta é de 10 dias. O governo do estado de São Paulo pretende iniciar a campanha de vacinação de grupos selecionados da população no próximo dia 25 de janeiro.

Republicar