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Astronomia

Novas pistas sobre o surgimento da nebulosa Sh 2-296

Sucessivas explosões de estrelas supermassivas nos últimos 6 milhões de anos teriam contribuído para o surgimento da nuvem interestelar

Nebulosa Sh 2-296 está situada às margens de uma nuvem de poeira interestelar mais densa e maior chamada nebulosa da Gaivota (acima)

Bob Franke

Um grupo de pesquisadores do Brasil e da França propôs uma hipótese para explicar o surgimento da nebulosa Sh 2-296, distante cerca de 3.800 anos-luz da Terra. Segundo eles, foram as sucessivas explosões de estrelas com massa dezenas de vezes superior à do Sol ocorridas nos últimos 6 milhões de anos que contribuíram para o fenômeno.

Nebulosas, ou nuvens interestelares, são regiões da Via Láctea com grandes concentrações de gás e poeira. São tão densas que podem impedir que um observador na Terra veja a luz das estrelas situadas atrás delas. Elas também são extremamente frias, com temperaturas que podem chegar a -250 graus Celsius. Essas condições favorecem a aglomeração de gás e poeira, que, a partir de certa densidade, passam a se agregar sob ação da gravidade formando fragmentos cada vez maiores – esse processo origina novas estrelas.

A nebulosa Sh 2-296, situada às margens de uma nuvem de poeira interestelar mais densa e maior chamada nebulosa da Gaivota – assim batizada por conta de seu formato –, apresenta uma mistura fascinante de objetos astronômicos, com várias estrelas a brilhar entre nuvens escuras. Há tempos pesquisadores tentam identificar a origem desse berçário estelar. A nova hipótese sobre seu surgimento baseia-se em dados obtidos por observatórios espalhados pelo mundo capazes de detectar diferentes formas de radiação que compõem o espectro eletromagnético.

Ao analisá-los, um grupo de pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e do Instituto de Astrofísica de Paris, na França, verificou que a Sh 2-296 integra uma estrutura maior, até então desconhecida, em forma de concha elíptica, que recebeu o nome de concha CMa. Ela teria surgido a partir de sucessivas explosões de estrelas supermassivas, fenômeno conhecido como supernova, de acordo com estudo publicado na revista Astronomy & Astrophysics, em agosto.

Próximas a essa concha, os pesquisadores identificaram três estrelas. Eles as analisaram a partir de dados obtidos pelo satélite Gaia, lançado em 2013 pela Agência Espacial Europeia (ESA) para medir a distância e os movimentos das estrelas na Via Láctea com base em fotos de alta resolução. “Constatamos que essas estrelas estão se deslocando para fora daquela região em alta velocidade”, explica a astrofísica Beatriz Fernandes, pesquisadora em estágio de pós-doutorado no IAG-USP e autora principal do estudo.

Eles rastrearam o movimento dessas estrelas para determinar sua posição original no passado e verificaram que elas foram todas ejetadas mais ou menos do mesmo local, dentro da concha CMa, a partir de três explosões de supernova sucessivas ocorridas 6, 2 e 1 milhão de anos atrás.

Projeto
Populações estelares na Via Láctea: bojo, halo, disco e regiões de formação de estrelas; instrumentação para espectroscopia de alta resolução (nº 14/18100-4); Modalidade Projeto Temático; Pesquisadora responsável Beatriz Leonor Silveira Barbuy (USP); Investimento R$ 1.880.330,79.

Artigo científico
FERNANDES, B. et al. Runaways and shells around the CMa OB1 association. Astronomy & Astrophysics. v. 628, A44. 6 ago. 2019.

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