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Carta da editora | 293

O desafio da imunização

Menos de quatro meses depois que a China notificou a OMS que havia identificado um cluster de casos de “pneumonia de causa desconhecida”, candidatas a vacinas contra o novo coronavírus já começavam a ser testadas em seres humanos.

Uma das primeiras empresas a iniciar testes clínicos (em seres humanos) da chamada fase 1, a chinesa Sinovac Biotech, celebrou com o Instituto Butantan um acordo para a participação na fase 3 de seu imunizante. Outra concorrente promissora, a formulação dos pesquisadores da Universidade de Oxford e da farmacêutica AstraZeneca será aplicada a voluntários brasileiros, sul-africanos e britânicos. No fim de junho, 17 alternativas estavam sendo testadas em pessoas.

A escolha do Brasil não se deve à sua longa tradição em imunologia e produção de vacinas, mas principalmente por ser o país que registrou o maior número de casos no último mês, acumulando mais de 1,4 milhão de contágios confirmados e 60 mil mortes. Acesso a um território com muitas ocorrências é essencial para a comprovação (ou não) da eficácia e eficiência de um imunizante, entre outros parâmetros importantes do seu processo de desenvolvimento.

Nunca tantos recursos e esforços foram direcionados à obtenção de uma vacina, empreitada de sucesso incerto. Não se sabe se um imunizante contra o vírus Sars-CoV-2 é viável nem por quanto tempo seria capaz de proteger a população. Para aumentar a complexidade, esse objetivo ambicioso está sendo proposto em tempo recorde – a estimativa mais otimista fala em meados de 2021. O sucesso de algum candidato, mesmo oferecendo cobertura aquém da ideal, seria um grande feito para a ciência. 

Desde a última edição, os números da pandemia ultrapassaram dois marcos quase inimagináveis: mais de 10 milhões de pessoas foram diagnosticadas com Covid-19, que custou a vida de 500 mil seres humanos. Pesquisa FAPESP trata do desafio de imunização em um conjunto de reportagens iniciadas à página 18: as principais candidatas, as iniciativas brasileiras para uma vacina de segunda geração, as diferentes técnicas sendo utilizadas.

Os esforços de investimento em pesquisa contra o novo coronavírus em outros países, no Brasil e em São Paulo são objeto de reportagens às páginas 38, 32 e 35, respectivamente. A cobertura traz também reportagem sobre um problema preocupante: o aumento da violência contra a mulher em tempos de isolamento social. As dificuldades de programar a retomada das atividades escolares é tratada em texto à página 48.

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O jornalista Carlos Fioravanti já acumulava mais de 10 anos de experiência na cobertura de ciência, tecnologia e ambiente quando em 1997 foi convidado a contribuir com o boletim Notícias FAPESP, produzido pela Fundação desde 1995. Em 1999, o periódico se transformou na revista Pesquisa FAPESP, com objetivo e público ampliados, e Fioravanti assumiu o cargo de editor de ciência. Editor especial desde 2007, publica reportagens em todos os setores da revista, pelas quais foi premiado diversas vezes. Em junho, recebeu o mais importante reconhecimento concedido aos profissionais que cobrem ciência no país, o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, do CNPq. A comissão julgadora da 40ª edição do prêmio destacou “a qualidade criativa e literária das narrativas jornalísticas experimentadas em seu percurso” e reconheceu “sua contribuição ao fortalecimento da área de jornalismo científico no Brasil”. Em 2000, a FAPESP foi contemplada com o José Reis na categoria Instituição e Veículo de Comunicação.

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