Imprimir PDF Republicar

Carta do editor | 57

O olhar para o futuro e a reavaliação do passado

Os Cepids visam a mudar a realidade, o Projeto Resgate, compreendê-la

Num clima de justificado orgulho e entusiasmo, com o governador Mário Covas presidindo o evento que superlotou o auditório da FAPESP, e três secretários de Estado abrindo a lista das demais autoridades presentes à solenidade, esta Fundação lançou na manhã de 14 de setembro seu mais novo programa, o dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão, Cepids. O peso político conferido ao evento se explica: aquilo a que a FAPESP se propõe com sua nova iniciativa é nada menos que “explorar um novo paradigma para a organização da pesquisa científica e tecnológica” em São Paulo, como explicou o diretor científico da instituição, José Fernando Perez, no artigo Pesquisa e Ousadia publicado no mesmo dia 14, na seção Tendências e Debates da Folha de São Paulo.

Em outras palavras, o programa dos Cepids, tema de capa desta edição de Pesquisa FAPESP, apresenta um modelo novo e alternativo à organização departamental da pesquisa, prevê uma estrutura para responder exclusivamente às necessidades do projeto de cada centro e propõe o envolvimento de pesquisadores de mais de uma instituição, criando, à imagem do Programa Genoma, eficientes redes de cooperação.

Ousado, baseado em experiências similares que vêm sendo testadas com êxito em países mais desenvolvidos, o programa se afirmou, de saída, como o mais competitivo na história da pesquisa no país: 112 grupos de excelência apresentaram pré-projetos em atendimento ao primeiro edital, lançado em outubro de 1998, mesmo sendo de conhecimento geral que a FAPESP apoiaria apenas uma meia dúzia de centros. Terminou se decidindo por apoiar 10, depois de um dificílimo processo de seleção, que envolveu mais de 120 cientistas em todo o mundo. Todos esses centros, independentemente da área de conhecimento em que atuam, terão que gerar conhecimento por meio de pesquisa multidisciplinar na fronteira do conhecimento; fazer inovação associada à transferência de conhecimentos, para o governo (desenho e implementação de políticas públicas) ou para a iniciativa privada (desenvolvimento de novas tecnologias de valor comercial e criação de empresas) e ainda, difundir o conhecimento gerado, via atividades de caráter educacional, envolvendo alunos do ensino médio ao pós-doutoramento e até de educação continuada. Vale a pena ler a reportagem para conhecer os primeiros Cepids em detalhes.

Sabidamente rica, a biodiversidade brasileira por vezes parece ter uma capacidade inesgotável para surpreender. E é essa sensação, no mínimo, que transmite a reportagem sobre uma pesquisa de novas espécies da caatinga, desenvolvida na região das dunas do São Francisco, um valioso reduto biológico. Até agora, os biólogos responsáveis pelo projeto já identificaram mais de 20 espécies, principalmente de lagartos, e quatro gêneros que constituem novidade para a ciência. Muitas das espécies são endêmicas, ou seja, exclusivas daquela área de solos arenosos e água escassa.

Vale destacar também, nesta edição, o suplemento especial sobre o projeto de resgate dos documentos históricos relativos ao Brasil Colônia, integrantes do acervo do Arquivo Ultramarino de Lisboa. De capital importância para a pesquisa histórica, em nível nacional o projeto foi patrocinado pelo Ministério da Cultura, enquanto o resgate da documentação referente à Capitania de São Paulo foi financiado pela FAPESP. O resultado material mais visível desse belo trabalho são preciosos catálogos com as fichas dos milhares de documentos que foram microfilmados em Portugal, e CDs que, além das fichas, reproduzem os próprios documentos relativos à vida, aos negócios e à administração das capitanias do Brasil colonial. Quanto aos impactos desse material na produção de novos conhecimentos históricos, eles são discutidos nas entrevistas dos especialistas reunidas no suplemento.

Republicar