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Tecnociência

O sofrimento de parar de fumar

Quem já tentou largar o cigarro sabe que não é fácil. Nem mesmo quando os efeitos danosos do tabaco já se manifestam e as chances de sobreviver dependem do abandono do vício. Para compreender os motivos que dificultam deixar o fumo, pesquisadores do Instituto do Coração (Incor) da Universidade de São Paulo acompanharam por um ano 60 homens e 40 mulheres que precisavam parar de fumar – mais da metade havia sofrido infarto, 30% tinha hipertensão grave e todos já haviam tentando sem sucesso largar esse hábito ao menos uma vez.

Ao avaliar o perfil dos participantes, a cardiologista Jaqueline Issa, do Ambulatório de Tabagismo do Incor, constatou que 67% das mulheres fumantes apresentavam depressão, que atingia 38% dos homens – são índices muito superiores aos do restante da população. Agora fica mais fácil entender por que algumas pessoas têm dificuldade maior para deixar o cigarro. “Esses indivíduos parecem mais vulneráveis à ação da nicotina, que gera dependência química e psíquica por aliviar a tensão e melhorar o estado emocional”, explica Jaqueline.

“Esse estudo ajuda a combater o estigma de que o fumante não tem determinação”, diz ela. Em seguida, a equipe do Incor tratou os fumantes por três meses com o antidepressivo bupropiona, o Zyban. Logo após esse período, o medicamento mostrou-se mais eficiente entre as fumantes: 62% das mulheres deixaram o cigarro, enquanto só 43% dos homens pararam de fumar.

Nove meses mais tarde, porém, metade das pessoas que haviam largado o fumo voltou a consumir cigarros. Jaqueline atribui a recaída à depressão, no caso dos homens. Já entre as mulheres a retomada do hábito de fumar ocorreu por causa da ansiedade latente, observada mesmo entre as que não retomaram o vício – depois de usar o Zyban, as ex-fumantes trocaram o cigarro pela comida e ganharam, em média, 8 quilos.

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