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Economia

Olha o peixe

A maior parte da produção pesqueira do Estado do Amazonas é desembarcada em Manaus. Entretanto, segundo os pesquisadores Valdenei de Melo Parente e Vandick da Silva Batista, ambos da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), as características de organização do apoio à produção e à comercialização do pescado na capital amazonense pouco têm sido avaliadas nas discussões para o desenvolvimento do setor. É isso que eles fazem no artigo “A organização do desembarque e o comércio de pescado na década de 1990 em Manaus”. Para subsidiar o planejamento do setor, o trabalho pretende estabelecer um referencial histórico sobre a organização do desembarque pesqueiro em Manaus, destacando as figuras centrais da cadeia de intermediação entre o pescador e o consumidor final. O objetivo é mostrar a dinâmica operacional do setor comercial pesqueiro e sua importância para o manejo da atividade. Entrevistas foram efetuadas com diversos atores desse setor, de forma a cobrir o mosaico de alternativas que existem para o abastecimento de pescado. “Há quatro tipos de agentes de comercialização atacadista de pescado para Manaus: o barco de pesca, o despachante, o atravessador e os frigoríficos”, explica o estudo. O despachante aparece como ator central no processo produtivo pesqueiro, seja por financiar as viagens e operações de comercialização, ou por executar a ligação entre os produtores-pescadores e os comerciantes de pescado. “A maior parte da produção de pescado em maior escala foi comercializada durante a década de 90 pelo despachante. Esse papel chave do intermediário é frequentemente observado no escoamento da produção rural, incluindo a pesqueira, na Amazônia”, diz o estudo. Exceção a esta regra ocorre com o "pescador ribeirinho autônomo", o qual pesca com seus próprios meios e comercializa sua produção com compradores sem intermediação. “A comercialização é elemento importante para a viabilização da atividade produtiva agrícola. É uma etapa que necessita ser realizada de imediato, devido a especificidade inerente à uma atividade geradora de produtos altamente perecíveis e com grade oscilação dos preços”, destacam os pesquisadores. No comércio varejista, os feirantes são os mais importantes, sendo a Feira da Panair responsável por cerca de 20% do abastecimento do pescado in natura em Manaus. Os supermercados e os pequenos comerciantes são os demais agentes varejistas, que disponibilizam produtos com valor agregado e preços maiores que o dos feirantes. O artigo mostra que o despachante atuou na década de 90 como um agente central no processo de comercialização. O despachante apresentou domínio não só sobre os pescadores, porque financia a produção, mas também sobre a principal parcela dos comerciantes varejistas, os feirantes, através dos financiamentos simplificados. “Representaram, portanto, os agentes que aplicam maior volume de recursos financeiros na atividade, sendo os principais representantes do capital comercial na pesca em Manaus”, dizem.

Acta Amazonica – VOL.35 – Nº3 – Manaus – JUL./SET. – 2005

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