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Via láctea

Onde está a matéria escura

Físicos indicam que a misteriosa substância deve existir entre o Sol e o centro da galáxia

Representação artística da Via Láctea, com o Sol no centro

nasa/jpl-caltechRepresentação artística da Via Lácteanasa/jpl-caltech

Um trio internacional de pesquisadores apresentou esta semana a evidência mais convincente até o momento de que o interior da galáxia onde está a Terra também abriga algo difuso e invisível: a matéria escura, cuja presença já foi confirmada em outras regiões do Universo. “Provamos pela primeira vez a existência de matéria escura nas regiões mais internas da Via Láctea, entre onde fica o Sol e o centro da galáxia”, diz o físico italiano Fabio Iocco, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Instituto Sul-Americano Para Pesquisa Fundamental (SFAIR) do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP), um órgão da Unesco com sede na Itália. Ele é líder do estudo publicado online hoje (9 de fevereiro) na revista Nature Physics.

Observações em todo o Universo sugerem que além da matéria normal já bem conhecida, feita de núcleos atômicos, existe outro tipo de matéria que ninguém ainda sabe ao certo do que é feita. Essa substância desconhecida, cinco vezes mais abundante que a matéria comum, é chamada de matéria escura porque parece não emitir nem absorver luz. O que se sabe por enquanto é que ela está espalhada pelo espaço, modificando o movimento de estrelas e galáxias com a força gravitacional de sua massa.

Na Via Láctea a coisa não é diferente. Análises anteriores do movimento de estrelas na periferia da nossa galáxia já mostraram que o disco espiral da Via Láctea é envolvido por um enorme halo de matéria escura. Mas nenhum estudo até agora havia conseguido garantir com precisão a sua existência no interior do disco galáctico.

O trabalho do trio de físicos é o primeiro a garantir com segurança que as estrelas da região estudada giram mais depressa do que seria esperado se não houvesse ali a presença da força gravitacional da matéria escura. “As curvas de rotação esperada sem matéria além da normal não batem com as observadas”, Iocco explica. “A massa total deve ser muito maior que a visível.”

Iocco e seus colegas conseguiram fazer isso agora, graças ao acúmulo de mais dados sobre o movimento e a distribuição de estrelas, nuvens de gás e todos os demais objetos celestes que giram em torno do centro da Via Láctea. Embora a maneira exata como o gás e as estrelas se distribui pela Via Láctea ainda seja motivo de debate (ver Pesquisa FAPESP nº 180), a análise de Iocco, feita em conjunto com Miguel Pato, da Universidade Técnica de Munique, Alemanha, e da Universidade de Estocolmo, Suécia, e Gianfranco Bertone, da Universidade de Amsterdã, Holanda, garante que existe matéria escura no interior da Via Láctea.

Segundo Iocco, seu estudo abre caminho para descobrir qual é a massa da matéria escura entre o Sol e o centro da Via Láctea e como ela está distribuída pelo espaço. Com certa cautela, ele acredita que a matéria escura não seja muito abundante nessa região como é na periferia da galáxia: haveria tanta matéria escura quanto matéria visível.

Artigo científico
IOCCO, F. et. al. Evidence for dark matter in the inner Milky Way. Nature Physics, online, 9 fev. 2015.

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