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Tecnociência

Os genes que fazem a pressão oscilar

Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) descobriram como atuam diferentes versões dos genes que controlam a produção de duas enzimas essenciais para a sobrevivência por fazer a pressão arterial subir ou cair: a enzima conversora da angiotensina (ECA), que reduz o diâmetro das artérias (ação vasoconstritora) e eleva a pressão, e a que produz o óxido nítrico, conhecida como eNOS (sintase do óxido nítrico endotelial), de efeito oposto (ação vasodilatadora). Diferentes arranjos desses genes aumentam o risco de morte ou, ao contrário, favorecem a adaptação do ser humano a ambientes adversos.

A equipe de Clarice Sampaio Alho, pesquisadora da Faculdade de Biociências da PUC de Porto Alegre, analisou o DNA de um grupo de 40 homens e mulheres que tinham entrado em choque séptico (uma complicação da infecção generalizada), quando a pressão se reduz drasticamente, e estavam internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Lucas, ligado à universidade. Depois, com a colaboração da professora Veronica Rubim de Celis, da Universidade Ricardo Palma (URP), em Lima, no Peru, fizeram a mesma análise em amostras de sangue de 102 habitantes das províncias de Huancayo e Apata, no Peru, que vivem a 3.249 metros de altitude. Nos dois casos, constataram que é significativamente mais freqüente o alelo (variação) do gene da ECA relacionado à baixa atividade dessa enzima na circulação.

Outro dado que chamou a atenção: no caso de quem vivia nas montanhas, o alelo da eNOS, possivelmente associado à vasodilatação mais intensa, mostrou-se mais presente do que em outras populações estudadas anteriormente. “São as primeiras evidências moleculares de que há um fator de risco genético para o desenvolvimento das complicações da sepse”, afirma Clarice. “Se a hipótese se confirmar, será possível garantir avanços expressivos no prognóstico e no tratamento desse problema”. Nas montanhas, diz ela, uma ECA menos ativa e uma eNOS mais eficaz poderiam servir para estabelecer um equilíbrio entre o organismo e o ambiente, promovendo naturalmente a seleção de quem passaria a viver nessas regiões, nas quais a pressão atmosférica é menor.

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