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Resenha

Gigantes da gravitação

Livro organizado por Stephen Hawking traz clássicos da física

De tão pesado, este é um livro que distorce o espaço à sua volta. Para entender porque, bastaria ler os dificílimos artigos de Einstein presentes no livro, escritos sobre os ombros do obra de Newton (e Maxwell), que por sua vez partiu de Galileu e Kepler, que estavam sobre os ombros de Copérnico.

Stephen Hawking, o famoso astrofísico inglês e sucesso editorial, assina a organização da obra e os bem escritos esboços biográficos. Apesar da falta de explicações na maioria dos textos e de algumas partes mal traduzidas, a edição brasileira coordenada pelo físico Marco Moriconi é uma boa compra para quem quiser decorar sua estante com clássicos da ciência moderna. Porém, nenhuma informação é dada sobre as edições que serviram de base para a tradução: talvez a editora Elsevier Brasil possa corrigir esta deficiência quando lançar a versão resumida e ilustrada do livro, o Illustrated On the Shoulders of Giants.

No livro de Nicolau Copérnico (1543), a introdução feita pelo teólogo Andreas Osiander é famosa por apresentar uma visão “instrumentalista” da teoria copernicana. Com respeito às teses associadas ao movimento da Terra em torno do Sol, “não é necessário que essas hipóteses sejam verdadeiras, ou mesmo que haja grande probabilidade de que o sejam; basta que elas forneçam um cálculo adequado às observações” (pág. 9). O Livro I de Copérnico é bem escrito e sua primeira metade pode ser lida sem muita dificuldade. O restante do da obra foi omitida, mas há uma tradução integral sob o título Revoluções dos Orbes Celestes, lançada em Portugal em 1984 pela Fundação Gulbenkian.

O título do livro de Galileu Galilei (1638), Diálogo sobre Duas Novas Ciências, deveria ser traduzido como Discursos, como na versão brasileira feita por L. P.R. Mariconda diretamente do original italiano. As duas ciências mencionadas são a resistência dos materiais e a cinemática, que envolve a descrição da queda livre dos corpos e do movimento dos projéteis. A partir da página 220, podem-se acompanhar os argumentos de Salviati de que no movimento dos corpos em queda, sua velocidade [accelerazione] continue a aumentar na mesma medida que o tempo, e não, como crê seus dois interlocutores, que sua velocidade aumenta em proporção com o espaço percorrido? (p. 226).

Na tradução de Johannes Kepler, apenas uma parte do Harmonias do Mundo (1618) é apresentada, ao passo que a edição em inglês traz também duas outras obras importantes de Kepler. Na versão em português, faltam várias figuras e trechos são suprimidos. O texto é fascinante por misturar numerologia, análise musical e astronomia. Em meio a essa sinfonia de idéias, Kepler apresenta o que seria posteriormente chamado de sua terceira lei: “a razão que existe entre os períodos de quaisquer dois planetas é precisamente a razão da potência de 3/2 das distâncias médias, ou seja, das próprias esferas” (pág. 357).

A tradução menos confiável é a do fundamental Princípios Matemáticos de Filosofia Natural (1687), de Isaac Newton. Há erros de tradução, de transcrição de fórmulas, e omissões de texto. Um trecho notável está no Escólio Geral adicionado em 1713, em que afirma que não faço nenhuma hipótese; […] e hipóteses, sejam metafísicas ou físicas, sejam de qualidades ocultas ou mecânicas, não têm nenhum lugar na filosofia experimental (pág. 908). Há uma boa tradução do Livro I do Principia relançada pela Edusp, em 2002.

A parte final do volume apresenta sete artigos bastante difíceis, escritos por Albert Einstein entre 1905 e 1919, sobre as teorias da relatividade restrita e geral. O começo de seu primeiro artigo apresenta seus dois geniais postulados, o da relatividade e o de que a velocidade da luz independe do movimento da fonte (pág. 920). O melhor resumo de suas teorias, em meio ao mar de tensores matemáticos, começa na p. 959.

Osvaldo Pessoa Jr. é professor do Depto. de Filosofia da USP, e trabalha em história e filosofia da ciência.

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