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Tecnociência

Os patos selvagens do Marajó

JANSEN DE ARAUJO / USP

Visitante do norte: já imune a vírus como o da gripe aviáriaJANSEN DE ARAUJO / USP

Biólogos da Universidade de São Paulo (USP) percorreram o norte do Pará por 20 dias, em julho, depois atravessaram o rio Amazonas e passaram outros dez dias na Ilha do Marajó. Coletaram sangue e secreção cloacal de frangos criados em granjas e de patos selvagens e de galinhas criados soltos nas proximidades de casas suspensas, as palafitas, em busca de vírus que possam abalar a saúde dos seres humanos. Nas análises feitas em laboratório nos últimos meses não encontraram nenhum vírus. O sangue dos patos selvagens do Marajó, porém, apresentava anticorpos contra alguns tipos de vírus de gripe – ou influenza – aviária, indicando que os animais já haviam tido contato com esses microorganismos. Não foi encontrado nenhum sinal do vírus de influenza do subtipo H5N1, uma variedade perigosa que causou a morte de milhares de aves e de pessoas no Sudeste da Ásia. Como as aves estavam sadias, é possível que os patos tivessem tido contato com o H5N2, uma variedade de vírus da família H5 que não causa doença, segundo o virologista Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coordenador da expedição. É um bom sinal: parece que o H5N1 não chegou ao Brasil (as amostras recentes de material colhidas de patos do sul do Brasil também não revelaram nem anticorpos contra essa variedade). Mas é também um mau sinal: caso apareça, poderá inicialmente passar despercebido entre os patos que já têm anticorpos contra vírus da família H5. Os patos, compara Durigon, serviriam como sentinelas: a morte deles revelaria o H5N1. “Sem esses sentinelas”, diz ele, “só perceberemos se os animais de granja morrerem”.

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