A noção de que as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Stem, em inglês) não são para as mulheres nunca passou pela cabeça de Cecilia Chirenti. Sua mãe é formada em engenharia eletrônica e desde 1978 leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, de modo que Chirenti não se sentiu intimidada ao escolher estudar no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). “Muitos colegas da graduação morriam de inveja porque eu podia tirar dúvidas de cálculo em casa”, brinca.
Só não tinha certeza se conseguiria construir uma trajetória acadêmica no Brasil. “Ainda assim, decidi estudar o que amava e fazer minha carreira dar certo.” Na faculdade, Chirenti fez dois anos de iniciação científica. A experiência foi suficiente, na avaliação de seu futuro orientador, o físico teórico Elcio Abdalla, para credenciá-la a um doutorado direto, na mesma instituição, em 2003. Foi quando começou a trabalhar com perturbações de sistemas gravitacionais, à luz da teoria da relatividade geral, proposta em 1915 pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955).
Chirenti concluiu sua pesquisa em 2007 e em seguida iniciou um estágio de pós-doutorado no Instituto Max Planck de Física Gravitacional, em Potsdam, Alemanha. “Achava que ficaria mais algum tempo no exterior para talvez fazer outro estágio de pós-doutorado”, conta. “Um dia, no entanto, Elcio Abdalla me alertou sobre a abertura de concurso para professor na Universidade Federal do ABC”, relembra.
Poucos meses antes de concluir seu estágio de pós-doutorado, em 2008, resolveu voltar para o Brasil e prestar o concurso. Foi aprovada e, aos 26 anos de idade, tornou-se professora adjunta do Centro de Matemática, Computação e Cognição da UFABC.
Em 2018, ao tomar conhecimento do programa Simons Emmy Noether Fellows, desenvolvido pelo Instituto Perimeter de Física Teórica, em Waterloo, Canadá, e voltado a físicas teóricas em início ou meados de carreira, decidiu se candidatar (ver Pesquisa FAPESP nº 250).
As candidatas à bolsa precisam ocupar um cargo em instituição de ensino superior e atuar em uma das áreas da física teórica existentes no Perimeter. No processo seletivo, avaliam-se a produção das pesquisadoras e o estágio da carreira no qual se encontram. Chirenti foi contemplada junto com outras sete cientistas de vários países e campos da física teórica. Durante três meses, poderá frequentar o instituto e lá estabelecer novas colaborações de pesquisa. O objetivo é avançar em seus trabalhos sobre ondas gravitacionais, buracos negros e estrelas de nêutrons.
Chirenti é a primeira cientista brasileira a obter uma bolsa do programa, que consiste em auxílio de 3 mil dólares canadenses(cerca de R$ 8,6 mil) por mês, além do custeio de todas as despesas com alimentação, moradia e transporte durante sua permanência no país. Ela embarcará para o Canadá em setembro. O programa também irá disponibilizar recursos para que Iara Ota, única mulher entre os seus três orientandos de pós-graduação na UFABC, possa passar um mês no instituto. “A ideia é que ela participe de seminários, desenvolva parte de seu projeto de pesquisa e inicie novas colaborações”, diz Chirenti.
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