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EVENTO PREPARATÓRIO

Para reduzir as emissões em São Paulo é preciso intensificar a agricultura e avançar no reflorestamento

Avaliação foi feita por participantes da quinta sessão da Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa Fapesp Segundo Patrícia Morellato, a solução para as mudanças climáticas no Brasil passa pela conservação da biodiversidadeLéo Ramos Chaves / Revista Pesquisa Fapesp

O estado de São Paulo é o quarto do Brasil em emissões de gases do efeito estufa. No entanto, enquanto o perfil nacional tem como base central o desmatamento e a agricultura – que juntos representam três quartos do total de emissões –, em São Paulo é a energia, sobretudo os combustíveis fósseis, o principal problema (71% dos gases emitidos).

Isso faz com que a realidade paulista seja mais semelhante à média global: 73% das emissões estão relacionadas à queima de combustíveis fósseis e 18% a mudanças no uso do solo e agricultura.

“Vamos pegar o estado de São Paulo como exemplo. Se sabemos que um setor está contribuindo para a redução das emissões, precisamos potencializá-lo. Enquanto a agricultura ainda representa 25% das emissões paulistas, a de mudanças de uso do solo é quase zero já que não há mais grande desmatamento há alguns anos e há um avanço na silvicultura. Basicamente, é preciso avançar ainda mais em termos de reflorestamento e restauração florestal”, avaliou Maurício Cherubin, vice-coordenador geral e diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP sediado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

A avaliação de Cherubin foi feita na quinta sessão da Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Cecti), dedicada a debater o tema “Mudanças Climáticas e Transição Energética”. Realizada na quinta (07/03) e sexta-feira (08/03) da semana passada, na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, a Cecti teve o objetivo de preparar as contribuições do estado de São Paulo para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), marcada para ocorrer entre 4 e 6 de junho, em Brasília.

“Estima-se que em São Paulo exista um déficit de 700 mil hectares de área de preservação permanente e 800 mil hectares de reserva legal, área semelhante à meta do Programa Refloresta São Paulo. Mas como podemos reflorestar mais? Intensificando o uso da terra voltado à agropecuária, especialmente no setor canavieiro, que é a principal produção que temos no estado”, afirmou Cherubin.

Patrícia Morellato, diretora do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças Climáticas (CBioClima) – Cepid sediado no campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista (Unesp) –, avaliou que o foco da resposta às mudanças climáticas precisa estar na conservação.

“A solução para as mudanças climáticas passa pela conservação e redução da perda de biodiversidade. O maior problema no Brasil não é a frota, mas o uso da terra. A biomassa, por exemplo, não é um milagre, temos de pensar em outras soluções. A cana-de-açúcar deveria ser pensada como algo transitório”, afirmou Morellato.

“Concordo que a homogeneização do ecossistema é um processo que gera, por um lado, perda de biodiversidade, mas, por outro, estrutura a economia do estado. É preciso misturar floresta e cana. A floresta assimila 18 vezes mais CO2 que a cana”, rebateu Cherubin.

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa Fapesp Da esquerda para a direita, Maurício Cherubin, Morellato, Jean Ometto e Marcos BuckeridgeLéo Ramos Chaves / Revista Pesquisa Fapesp

No painel, os pesquisadores abordaram a importância de reduzir o uso de combustíveis fósseis. “O problema está posto. As temperaturas estão aumentando e o mapeamento de risco é central para definir os impactos emergenciais e as soluções possíveis associadas aos eventos climáticos. Precisamos reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis. Para tal, necessitamos de transformações urgentes e sistêmicas, olhar a produção e as transformações das cadeias produtivas, para garantir um futuro resiliente com emissões líquidas zero”, alertou Jean Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e integrante da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

Marcos Buckeridge, integrante do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da Universidade de São Paulo (USP), listou seis iniciativas para a descarbonização: “Diminuir o uso de combustíveis fósseis, aumentar a produção de biocombustíveis, produzir eletricidade suficiente para a eletrificação da frota, diminuir as emissões por desmatamento, avançar nas tecnologias agrícolas e acompanhar e modelar o processo de descarbonização”, disse.

“O que é factível para enfrentar as mudanças climáticas? Energia eólica, solar, bioenergia, armazenamento de eletricidade [baterias], captura de carbono e a energia nuclear”, completou.

Buckeridge alerta que, embora muito se diga que a indústria do petróleo teria um prazo de apenas mais 50 anos, “nunca se sabe”. “Cada vez se acha mais petróleo. Um exemplo disso é o pré-sal. Portanto, a exploração de petróleo pode ser menos carbonizada. Existem vários elementos de phase out [interrupção gradual do uso] que são importantes. Como, por exemplo, aumentar a produção de biocombustíveis, acoplar os sistemas de bioenergia com o de captura de carbono, enterrar o CO2 emitido por biocombustíveis [captura de carbono], além de incrementar a produção canavieira, ou seja, usar menos área para produzir mais da planta e, por consequência, mais etanol”, afirmou.

A sessão “Mudanças Climáticas e Transição Energética” também abordou os seguintes temas: Os desafios científicos e tecnológicos da transição energética; Adaptação, mitigação e resiliência às mudanças climáticas; Economia circular e bioeconomia; Mudanças climáticas e biodiversidade; e Economia de baixo carbono. Outros participantes foram Paulo Artaxo (USP), Simone Miraglia (Universidade Federal de São Paulo) e Gonçalo Amarante Pereira (Universidade Estadual de Campinas).

Mais informações sobre a CECTI estão disponíveis em: fapesp.br/cecti.

O vídeo com as duas últimas sessões de sexta-feira (08/03) pode ser acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=UE5Md5UlxWI.

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