Os físicos Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), de 71 anos, e Jarbas Caiado de Castro Neto, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, de 72 anos, foram os vencedores do Prêmio CBMM de 2025 nas categorias Ciência e Tecnologia, respectivamente. Cada um deles receberá R$ 700 mil. A premiação, criada pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), busca reconhecer o legado de profissionais que contribuem para o desenvolvimento do Brasil.
Nos anos 1970, Artaxo direcionou seus estudos para problemas ambientais causados pelo desmatamento na Amazônia e os impactos no clima regional e global. Em particular, focou nas finas partículas em suspensão na atmosfera, os aerossóis e seus impactos na formação de nuvens e chuva. Desde então, sua carreira tem sido pautada por três grandes temas: meio ambiente, mudanças climáticas globais e pesquisas na Amazônia. Seus estudos se tornaram referência internacional sobre impactos da Amazônia nas mudanças climáticas globais.
Olhando para sua trajetória, Artaxo destaca especialmente a descrição dos processos que regulam o funcionamento do ciclo hidrológico na maior floresta tropical do mundo. “Esse avanço se tornou central para que os modelos climáticos pudessem melhorar as previsões de chuva na região e, assim, identificar vulnerabilidades críticas do ciclo hidrológico amazônico”, observa o físico, um dos coordenadores do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
Ao lado de outros 11 brasileiros, Artaxo estava entre os cientistas que contribuíram para o quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), ganhador do Nobel da Paz em 2007. “Nossas contribuições têm sido estratégicas pela vulnerabilidade do Brasil às mudanças climáticas, pelo papel da floresta amazônica na regulação climática e por questões ambientais importantes que afetam diretamente a população, como a poluição do ar urbano e as queimadas.”
Empreendedorismo em tecnologia óptica
Castro Neto, por sua vez, trilhou sua carreira acadêmica como pesquisador e professor em paralelo com a de empresário – ele tem em seu currículo a criação de 15 empresas na área óptica em oftalmologia e, mais recentemente, na agricultura. “Quando terminei o doutorado em física no MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos], em 1981, e voltei ao Brasil, não havia aqui a infraestrutura necessária para fazer experimentos de óptica avançada. Diante disso, em vez de apenas comprar centenas de componentes necessários, como prismas, espelhos, lentes, decidi adquirir as máquinas que os fabricavam”, conta. Foi assim que Castro Neto montou, naquela época, nos anos 1980, a primeira oficina de óptica do hemisfério Sul. “Abrimos um caminho para uma cultura de empreendedorismo a partir dessa infraestrutura”, diz.
Ele destaca o esforço de fazer pesquisa básica, desenvolver suas aplicações e levá-las para o mercado, além de auxiliar alunos de pós-graduação a percorrerem esse caminho. “Juntos, estruturamos em São Carlos um centro de óptica com uma forte concentração de empresas da área: só de microscópios cirúrgicos, são sete, todas ligadas às nossas pesquisas; em laser para oftalmologia, há três empresas”, observa.
Atualmente, Castro Neto lidera três startups junto com seus alunos. Uma delas tem foco no desenvolvimento de lasers verde, infravermelho e dual, que auxiliam no tratamento de doenças oculares como glaucoma e catarata. A segunda empresa aplica óptica e inteligência artificial (IA) na agricultura, com sensores acoplados em tratores com pulverizantes capazes de identificar e exterminar com precisão ervas daninhas. “Com isso, é possível reduzir em até 85% o uso de defensivos.” A terceira empresa usa IA para autenticar a origem de grãos de café, indicando em qual região foram plantados, para evitar adulterações. “Essas três iniciativas contaram com apoio do programa Pipe [Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas] da FAPESP. Ao longo da minha carreira, foram mais de 10 projetos Pipe realizados”, finaliza.
Os vencedores das edições anteriores estão relacionados abaixo:
2024
Ciência: Marcos Assunção Pimenta, físico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Tecnologia: Marcelo Britto Passos Amato, médico do Instituto do Coração da USP
2023
Ciência: Wanderley de Souza, parasitologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Tecnologia: Nivio Ziviani, engenheiro mecânico e cientista da computação da UFMG
2022
Ciência: Marcelo Knobel, físico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Tecnologia: Jerson Lima Silva, biofísico da UFRJ
2021
Ciência: Vanderlei Bagnato, físico do IFSC-USP
Tecnologia: Júlio César Oliveira, engenheiro elétrico e CEO do grupo Idea Sistemas Eletrônicos
2020
Ciência: Cesar Victora, médico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Tecnologia: Fernando Galembeck, químico da Unicamp
2019
Ciência: Marcelo Viana, matemático do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa)
Tecnologia: João Batista Calixto, farmacologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
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