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Boas práticas

Perda de confiança

Universidade suíça decide encerrar o contrato de ecólogo britânico que enfrenta acusações de má conduta

O Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH-Zurique), na Suíça, anunciou que não vai renovar o contrato de um de seus pesquisadores mais proeminentes, o ecólogo britânico Thomas Crowther, argumentando que perdeu a confiança no cientista após ele ser alvo de “relatos de alegada má conduta em diferentes níveis”. A universidade suíça não deu detalhes sobre as acusações porque o pesquisador obteve uma decisão judicial provisória proibindo a divulgação dos casos, mas informou que uma investigação externa realizada por um escritório de advocacia contratado entrevistou denunciantes e confirmou as queixas.

“O presidente do ETH-Zurique, Joël Mesot, decidiu não mais empregar o cientista após o término do período de estabilidade”, informou a instituição, em uma nota enviada à revista Nature. “Após uma avaliação cuidadosa, o presidente chegou à conclusão de que não há mais uma base de confiança para um contrato de trabalho permanente.”

Em outubro, um manifesto e um abaixo-assinado, chancelados pelas organizações Mulheres nas Ciências Naturais, 500 Mulheres Cientistas de Zurique e Fale mais Alto na Academia, criticaram o ETH-Zurique por ignorar diretrizes criadas para “proporcionar um ambiente de estudo e trabalho justo e equitativo, livre de assédio moral, intimidação, assédio sexual e discriminação” – e mencionaram as oito denúncias feitas entre 2018 e 2021 contra o pesquisador, divulgadas pela imprensa, que teriam sido ignoradas pela instituição. “Há uma impressão predominante de que o ETH-Zurique está novamente adotando uma abordagem de ‘esperar para ver’, torcendo para que as manchetes desapareçam”, sustentou o manifesto. O documento foi entregue no dia 8 de novembro à direção da instituição por um grupo de mulheres, em um protesto contra bullying, assédio sexual e discriminação que reuniu 150 pessoas no campus da instituição.

Crowther, de 38 anos, ganhou notoriedade em 2015 quando publicou um artigo na Nature sugerindo que havia quase 3 trilhões de árvores no planeta, quase oito vezes a estimativa anterior. A pesquisa inspirou o lançamento de uma iniciativa de conservação de árvores pelo Fórum Econômico Mundial. À época, ele fazia pós-doutorado na Universidade Yale, nos Estados Unidos. Em 2017, foi contratado pelo ETH-Zurique como professor titular e liderava um projeto sobre processos ecológicos que impulsionam o ciclo do carbono e o clima – a fundação holandesa DOB Ecology destinou à iniciativa US$ 8,4 milhões (o equivalente a R$ 48 milhões), ao longo de 10 anos. Por causas das acusações, a fundação suspendeu temporariamente o financiamento.

Em dezembro, pesquisadores e técnicos do grupo de Crowther foram avisados pela direção do ETH-Zurique que o laboratório em que trabalham seria dissolvido. O ecólogo está em licença administrativa e permanecerá vinculado à instituição até setembro, quando acaba seu contrato. Ele disse à Nature que já recebeu convites para se transferir para duas instituições, uma na Europa e outra na Ásia. “Ainda estou considerando qual seria o melhor lugar para a próxima fase do nosso grupo”, afirmou.

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