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SAÚDE PÚBLICA

Perigo à beira d’água

Cresce o risco de malária na barragem de Porto Primavera

Construída desde 1979 e concluída no ano passado, a Barragem Porto Primavera – ou Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta -, no rio Paraná, não trouxe apenas mais energia elétrica à região. Provocou também o crescimento da população do Anopheles darlingi , um dos mosquitos transmissores da malária, que atinge cerca de 500 mil brasileiros por ano.

Um estudo conduzido pelo epidemiologista Almério de Castro Gomes, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), indica que a população desses insetos praticamente duplicou: em apenas um ponto de coleta no município paulista de Presidente Epitácio, a população passou de 137 indivíduos, antes da inundação, para 260, depois que o reservatório começou a encher, em 1998. O Anopheles darlingi, que antes ocupava o 48º lugar entre 58 espécies de mosquitos, pulou para o terceiro lugar entre as 26 variedades remanescentes.

“A hipótese mais provável para a elevação do número de mosquitos dessa espécie é que os criadouros, antes dispersos pela região, tenham se concentrado ao redor da barragem, nas áreas próximas ao Reassentamento Lagoa São Paulo”, comenta Gomes. Segundo ele, outros estudos já haviam indicado que a construção de barragens acentua a disseminação da malária por criar condições favoráveis ao desenvolvimento do mosquito transmissor, como o acúmulo de água associado à vegetação.

Gomes desembarcou na região da futura barragem em 1997, um ano e meio antes da primeira inundação. Até o final de 1998 em Presidente Epitácio e em Bataguassu, do outro lado do rio Paraná, analisou a fase de pré-enchimento antes de haver qualquer influência da barragem. Em dezembro de 1998, partiu para a etapa seguinte, destinada a observar o impacto inicial da formação do lago que começava a se formar, com o fechamento das comportas (hoje, o lago de Porto Primavera tem 2.250 quilômetros quadrados e é maior que o de Itaipu.

Agora, na terceira etapa do projeto, que deve terminar em 2002, a preocupação é saber se o mosquito vai se instalar de fato e que papel pode ter no aumento do número de casos de malária numa área considerada de risco, tanto pela concentração de pessoas quanto pela localização, vizinha a regiões endêmicas.No momento, a doutoranda Ana Maria Duarte, de sua equipe, procura avaliar se há, na região, portadores do protozoário Plasmodium vivax, o causador da malária.

Havendo o agente e o vetor, estariam completos os requisitos para se iniciar um processo de transmissão, ainda mais crítico porque a população de Anopheles darlingi se encontra em crescimento. Exames parasitológicos demonstraram que não há pessoas contaminadas. Com testes imunológicos, em andamento, pretende-se conferir os resultados de modo ainda mais rigoroso.

PERFIL
Almério de Castro Gomes
, piauiense de 58 anos, fez a graduação em Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ) e o mestrado e o doutorado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), onde leciona desde 1976.

Projeto
Avaliação do Impacto da Barragem de Porto Primavera sobre Populações Vetoras de Malária e das Perspectivas Subseqüentes de Controle
Investimento
R$ 71.369,97

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