Versatilidade é uma das muitas propriedades que caracterizam o plástico. Esses polímeros têm múltiplos usos, substituindo vidro, madeira, papel, metal, tecidos naturais. Essa particularidade o tornou onipresente na sociedade ocidental moderna. A produção mundial, em milhões de toneladas, era de 2 em 1950 e chegou a cerca de 400 em 2016. É o veículo perfeito para o modelo de consumo rápido, barato e descartável.
A trajetória exponencial do plástico esbarrou em um grande problema: o incômodo da opinião pública com imagens como a da tartaruga com um canudo entalado na narina, fauna marinha com resíduos plásticos no estômago e ilhas de descartes flutuando em alto-mar. Em pouco tempo, tornou-se frequente na mídia a notícia de alguma cidade ou país que proibiu canudos ou plásticos de uso único. Empresas procuram adotar materiais de origem biológica, e a degradação dos diferentes tipos de polímero na natureza é objeto de investigação.
Os problemas decorrentes da produção e do consumo excessivo de plásticos, assim como eventuais soluções, são o tema das três reportagens que compõem a capa desta edição. Achar substitutos que causem menos danos à natureza, como os bioplásticos, é um desafio tecnológico e comercial: ainda representam uma parcela ínfima (0,5%) do total de plástico produzido anualmente. Outra dificuldade é o seu descarte: um dos atrativos desse tipo de material é justamente a sua estabilidade diante dos processos naturais de degradação.
Cerca de 40% da produção atual de plásticos se destina aos produtos de uso único, o que coloca em questão a necessidade de um consumo mais consciente em um planeta com seus recursos sob severo estresse: seringas descartáveis podem ser imprescindíveis, mas muitos outros desses produtos, não. O ônus não deve ser depositado no consumidor final, mas é improvável que sem uma mudança real de comportamento esse problema seja resolvido ou atenuado. A responsabilidade pela destinação final e eventual reciclagem também é objeto de debate: que obrigações cabem aos fabricantes? Diferentes países dão respostas diversas.
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Desde 2003, o Brasil tem uma legislação restritiva em relação ao acesso às armas de fogo, mas ainda é o país com a maior quantidade de assassinatos por disparos no mundo. Dos 65,6 mil homicídios em 2017, 74,4% foram causados por balas. A partir do Estatuto do Desarmamento, as taxas anuais de assassinato cresceram menos: nos 23 anos antes da lei, a média avançava 8,1% ao ano; de 2004 a 2014, o crescimento anual passou a ser de 2,2%, mostra levantamento do Ipea.
Há várias explicações para essa aparente contradição – com o acesso às armas restringido pela legislação, a expectativa seria de que o número de homicídios caísse. No que diz respeito à oferta, ainda são vendidas em média 53 mil unidades por ano, apesar de queda substancial, mostram dados do Instituto Sou da Paz. Além disso, pesquisa do mesmo instituto sobre o caminho percorrido por armas legalmente comercializadas no estado de Goiás mostra que 73% de quase 9 mil unidades apreendidas pela polícia em um período de 18 meses (junho de 2016 a dezembro de 2017) haviam sido adquiridas antes do estatuto. Isso significa que o armamento da população nas décadas de 1980 e 1990 ainda tem um impacto na violência existente no país.
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