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distúrbios do sono

Por uma melhor qualidade do sono

Centro de Estudos do Sono investirá no desenvolvimento de novas tecnologias

Sérgio Tufik: interação com a iniciativa privada tende a se consolidar

Eduardo Cesar

Na década de 70, por iniciativa de um grupo de pesquisadores do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tiveram início os estudos sobre o distúrbio do sono no Brasil, antes mesmo da primeira classificação internacional da doença. Esses estudos fizeram parte da primeira leva de projetos temáticos aprovados pela FAPESP. Atualmente, a equipe multidisciplinar, composta por 12 doutores, conta com dois laboratórios para o desenvolvimento de pesquisas básicas nas áreas de pediatria, neuropsiquiatria e doenças respiratórias, 26 apartamentos para exames clínicos, além de desenvolver programas de formação profissional.

Com o apoio da FAPESP, o Centro de Estudos do Sono pretende ampliar as suas atividades e investir no desenvolvimento de tecnologia para produzir, em parceria com a iniciativa privada, aparelhos como o CPAP, que injeta ar com pressão contínua nas narinas, produzido no Canadá. Sérgio Tufik, diretor do Centro, quer desenvolvê-lo aqui, em parceria com os canadenses. Outro equipamento é um aparelho oral para o deslocamento da mandíbula. Ambos são utilizados no tratamento da apnéia. Na avaliação de especialista que compôs a banca julgadora do projeto, “a experiência do grupo na interação com a indústria privada é razoável e tende a se consolidar. O grupo tem a nítida percepção do mercado que é emergente, neste caso”.

Os distúrbios do sono têm um custo social alto. “Somos campeões em acidentes de tráfego, cujas maiores causas são o álcool e o sono. E a maior parte dos acidentes de ônibus ocorre porque o motorista dormiu na direção”, revela Sergio Tufik. Com o apoio da FAPESP, o Centro vai realizar polissonografias em 300 motoristas de uma empresa de ônibus. A polissonografia avalia as condições respiratórias, cardiológicas e neurológicas do paciente durante o sono. “Se ele tiver apnéia, que é a parada respiratória noturna, terá sonolência durante o dia. Tem que se tratar.” A apnéia e o ronco são distúrbios que atingem pelo menos 40% da população masculina. “As pesquisas revelam que as pessoas que roncam morrem entre 60 e 70 anos porque têm oximetria menor e baixo nível de saturação, o que sobrecarrega o coração”, afirma Tufik. Essa dificuldade respiratória pode, muitas vezes, produzir arritmia cardíaca.

“Tem muita gente com marcapasso que poderia ter o seu problema resolvido com CPAP.” Entre as mulheres, o distúrbio mais freqüente é a insônia, que acaba por resultar no uso, e abuso, de benzodiazepínicos, que causam dependência. “De cada três medicamentos vendidos no Brasil, um é psicotrópico e, entre esses, o segundo mais vendido são os benzodiazepínicos. Existem outros métodos, como a medicina comportamental ou o bio feedback, que ajudam a resolver o problema”, diz Tufik. Com o objetivo de esclarecer a população sobre os distúrbios mais freqüentes do sono, o Centro pretende realizar uma ampla campanha com informações sobre os efeitos da doença e dos tratamentos adequados.

Além dapesquisa básica, do desenvolvimento de tecnologia nacional e de campanhas populares, o Centro vai investir na formação de especialistas em distúrbios do sono. “Há mais de 130 laboratórios de sono no Brasil, mas as faculdades não estão preparadas para ensinar. Só a Unifesp, antiga Escola Paulista de Medicina, tem curso de especialização, além de mestrado e doutorado nessa matéria. Estamos preparando professores para formar profissionais.”

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