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BOAS PRÁTICAS

Práticas questionáveis

Pesquisadores vinculados a instituições dos Estados Unidos e da Europa têm percepções nem sempre coincidentes sobre integridade científica, de acordo com um levantamento do projeto Padrões de Procedimentos Operacionais para Integridade em Pesquisa (SOPs4RI), desenvolvido pela União Europeia no âmbito do programa Horizonte 2020. Aproximadamente 47 mil acadêmicos de diversas áreas – 95% deles de países europeus e 5% norte-americanos – foram convidados a responder a um questionário on-line sobre experiências e percepções relacionadas a oito diferentes tipos de práticas de pesquisa consideradas questionáveis.

O problema mais grave relatado foi o da chamada autoria honorária. Sessenta e nove por cento dos pesquisadores na Europa afirmaram que, nos três anos anteriores, estiveram engajados em estudos que incluíram em seu rol de coautores indivíduos sem contribuição efetiva na obtenção dos resultados – eles teriam recebido o crédito de forma imprópria. Já nos Estados Unidos, apesar de esse tipo de desvio também ser o mais prevalente, o índice foi menor, na casa dos 55%.

Nick Allum, cientista social e professor de metodologia científica da Universidade de Essex em Colchester, Reino Unido, que coordenou o levantamento, disse à revista Nature que a alta prevalência do problema tem a ver com a forma com que a autoria é atribuída nas equipes de pesquisa. Os líderes podem decidir quem receberá crédito sem consultar os participantes em início de carreira. “Algumas pessoas acham que não há nada de errado com isso”, afirmou.

Em termos relativos, as maiores disparidades foram observadas nas questões “realizar pesquisas sem aprovação ética” (perto de 20% entre europeus e quase 10% entre norte-americanos) e “deixar de divulgar conflitos de interesse” (cerca de 10% para europeus e pouco mais de 5% para os norte-americanos).

Em outras situações, houve maior convergência. Pouco menos de 54% dos europeus e quase a metade dos norte-americanos relataram ter participado de pesquisas cujas publicações não foram submetidas a uma revisão por pares completa e adequada. E 56% dos pesquisadores dos Estados Unidos, ante 49% dos europeus, testemunharam falhas na supervisão de colegas em início de carreira.

Já sobre suas percepções, 74% dos 2,3 mil entrevistados nos Estados Unidos disseram-se muito confiantes de que estavam cumprindo com os mais altos padrões de integridade científica; esse percentual foi de 52% entre os acadêmicos na Europa. Cerca de 40% dos norte-americanos disseram ter total ou muita confiança na capacidade de suas instituições de manter altos padrões de integridade em pesquisa. Entre os entrevistados na Europa, foram 34%.

O trabalho foi divulgado no repositório de preprints MetaArXiv.

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