Nunca antes na história da ciência tantos artigos científicos foram retratados no período de um ano quanto em 2023. Foram mais de 10 mil, ante pouco mais de 4 mil em 2022, de acordo com levantamento feito pela revista Nature a partir de dados das bases Retraction Watch e Dimensions. O recorde foi batido com essa margem folgada graças a um escândalo envolvendo a Hindawi, um dos braços da editora John Wiley & Sons, que cancelou a publicação de 8 mil artigos devido à manipulação no processo de revisão por pares.
A maior parte das retratações envolveu edições temáticas dos periódicos da editora. As edições foram organizadas por editores convidados, sem vínculo com as publicações, que aceitaram divulgar conteúdo de baixa qualidade e, em alguns casos, até perderam o controle sobre o processo de revisão por pares, manipulado por fraudadores. O caso levou a editora John Wiley & Sons a suspender temporariamente a publicação de edições temáticas e culminou com a decisão, no final de 2023, de abolir a marca Hindawi – seus títulos agora serão publicados com a marca da empresa-mãe.
De acordo com a análise da Nature, a taxa de artigos publicados no período de um ano que acabam retratados triplicou nos últimos 10 anos. Em 2022, foi de 0,2%, enquanto em 2012 era de quase 0,07%. A Arábia Saudita foi o país que, proporcionalmente, teve mais artigos retratados nas últimas duas décadas. Foram 30,6 papers cancelados para cada 10 mil publicados. Em seguida nesse ranking aparecem o Paquistão (28,1 retratados por 10 mil publicados), a Rússia (24,9), a China (23,5), o Egito (18,8), a Malásia (17,2), o Irã (16,7) e a Índia (15,2).
A conta inclui artigos e trabalhos de revisão, mas não estudos publicados em anais de conferências, que representam um quarto do total de retratações. Quando os anais de conferência também são considerados, a China aparece em primeiro ligar, com pouco mais de 30 retratações por 10 mil publicações. Uma grande onda de retratações em anais de conferências ocorreu entre 2010 e 2011. Apenas o Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), consagrada instituição mundial que reúne profissionais da área de tecnologia, retratou mais de 10 mil trabalhos publicados em suas conferências nas últimas duas décadas por negligência no processo de revisão por pares.
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