Cordialmente, Carlos Lacerda
Em período de crises políticas, um fantasma ronda o imaginário de todos: Carlos Lacerda. O inventor do chamado “mar de lama”, apesar de polêmico, não pode ser comparado com a boçalidade dos denunciantes e moralistas de plantão dos tempos atuais. Uma boa prova de seu talento aparece nessa interessante coleção de cartas escritas por ele e para ele num período que se estende de 1939 até 1968, incluindo, a parte mais saborosa, todo um volume dedicado às epístolas que falam de sua relação com o regime militar. Nisso, temos direito mesmo a surpresas, como um telegrama em que o defensor ferrenho do golpe de 1964 se transforma em crítico da ditadura, pregando a anistia aos cassados daquele ano. “Respondendo ao seu telegrama entendo tema deve abranger, segundo penso, exame. Revolução em face tentativa dividir-nos. Promover restauração. Processar volta de homens banidos pelo movimento”. Mas nem tudo é política e há várias cartas para escritores e intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade, JK, Erico Verissimo, Gilberto Freyre, Mário de Andrade.
Carlos Lacerda, UNB/Fundamar, 2 volumes, R$ 54,00 (cada)
Editora UnB (61) 3035-4200