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RONALDO MOTA SARDEMBERG

Resultado da cooperação

O grande feito alcançado pelos pesquisadores do Projeto Genoma muito orgulha a ciência brasileira e confirma, mais uma vez, a capacidade de nossos cientistas. Congratulo-me com a FAPESP e demais instituições participantes do projeto, bem como com toda a equipe envolvida na pesquisa. É com satisfação que registro o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, ainda na etapa inicial do projeto, quando o Subprograma de Biotecnologia do PADCT financiou seis Plataformas Tecnológicas na área de citricultura no Estado de São Paulo.

Como resultado, surgiu o interesse e a base técnica para o estudo da Xylella fastidiosa, que foi assumido pela FAPESP em colaboração com outros parceiros de São Paulo. O Programa Agronegócios do CNPq apoiou diversas ações resultantes das recomendações dessas Plataformas, entre elas o Projeto Genoma que, posteriormente, também recebeu bolsas de desenvolvimento tecnológico e bolsas de apoio técnico.

Mais do que fato isolado, essa conquista deve ser examinada sob uma perspectiva mais abrangente, como o ápice de um esforço exemplar de cooperação que congregou comunidade científica, setor empresarial, instituições públicas de amparo e fomento à pesquisa e órgãos governamentais.

A capacitação do Brasil na área da biotecnologia figura entre os principais propósitos da política de ciência e tecnologia do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mais que em outros domínios do conhecimento, a biologia e a biotecnologia são setores onde as transformações são mais evidentes e atingem de forma mais profunda o ser humano individualmente e a coletividade.

Por essa razão, a biotecnologia está incluída entre as prioridades do Avança Brasil (2000-2003). O Ministério da Ciência e Tecnologia e os órgãos a ele vinculados, em particular o CNPq e a FINEP, juntamente com a Embrapa, do Ministério da Agricultura, e a Fiocruz, do Ministério da Saúde, estão envolvidos no processo de implementação do Plano Plurianual de Biotecnologia e Recursos Genéticos.

Mais de 270 milhões de reais serão aplicados nos próximos quatro anos, com os objetivos de desenvolver produtos e processos biotecnológicos relevantes para a produção industrial, a agropecuária e a saúde humana e conservar recursos genéticos.

Hoje, a biotecnologia se inscreve num quadro amplo em que dominam novas tendências com relação à ciência e tecnologia, à globalização e à sustentabilidade. Essas são questões-chave no plano internacional e continuarão, ainda por longo tempo, a dominar os debates públicos dentro e fora do País.Os avanços da biotecnologia têm nítido interesse para os países em desenvolvimento, devido a seu potencial de enfrentar os desafios associados ao incremento da produtividade agrícola e a conquistas na área da saúde.

Com efeito, uma de suas promessas é contribuir para o atendimento das necessidades de nossos países, como pobreza, fome e doenças, o que requererá a conjugação de esforços para a promoção de políticas públicas que as privilegiem, além de considerável reorientação dos atuais padrões de desenvolvimento tecnológico.

Por outro lado, a ausência de benefícios claramente identificáveis leva-nos, algumas vezes, a perceber essa tecnologia em termos dos riscos – reais ou imaginários – e dos potenciais danos que a ela possam estar vinculados. Para superar essa percepção negativa, são necessárias estratégias que permitam maximizar os benefícios reais da biotecnologia e controlar e minimizar seus riscos.

Para isso, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – que o Dr. Andrew Simpson ajudou a estruturar e integrou durante sua fase inicial – mobiliza, desde 1996, seus melhores esforços no sentido de oferecer à sociedade a mais criteriosa análise, sob o ponto de vista da saúde humana e animal e da proteção ao meio ambiente, de todos os projetos envolvendo organismos geneticamente modificados.

A conquista que hoje celebramos deve sinalizar, para nossa sociedade e para a comunidade internacional, que somos parceiros viáveis em projetos de desenvolvimento de médio e longo prazos – nesta e em outras áreas. A riqueza de nossa biodiversidade, associada à base científica de pesquisadores e laboratórios aqui existente e aos investimentos nacionais em pesquisa e desenvolvimento, permite que aspiremos a uma participação ativa nessa transição rumo ao desenvolvimento sustentável.

Ronaldo Mota Sardemberg é ministro da Ciência e Tecnologia

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