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Carta do editor | 28

Revelando o sistema paulista de C&T

Notícias FAPESP de dezembro último levou a seus leitores uma pequena amostra dos resultados do projeto Ciência e Tecnologia em São Paulo nos Anos 1990. Concebido pela própria Fundação e desenvolvido ao longo de 1997, o projeto resultou no mais completo documento já elaborado sobre o sistema paulista de produção científica e tecnológica. Dentro de mais alguns meses, quando esse estudo estiver disponível em volume impresso e em suporte eletrônico, na Internet, qualquer pessoa interessada no assunto poderá ter, entre outros, dados sobre a origem e a distribuição dos investimentos em C&T, neste Estado, sobre a organização do sistema paulista de inovação, e contar com um sofisticado perfil do pesquisador paulista – tudo isso explicitado numa impressionante quantidade de gráficos e tabelas.

Esse estudo, essencial para fornecer, digamos, uma radiografia da ossatura que sustenta o corpo vivo da produção científica e tecnológica em São Paulo, deve ser um ponto de partida, mais que de chegada. Pretende a FAPESP que ele seja, de fato, peça inicial para um diagnóstico mais abrangente, profundo e consistente da área de C&T, com suas grandezas e mazelas, realidades e potencialidades.

Para isso, a esse estudo devem se somar uma pesquisa sobre o impacto dos projetos de pesquisa financiados pela FAPESP no desenvolvimento sócio-econômico de São Paulo, ora em curso, e uma série de levantamentos setoriais sobre o sistema paulista de C&T, que a Fundação pretende iniciar ainda neste ano de 1998.

Qual a razão para promover esses levantamentos? Acreditamos que existe, hoje, uma necessidade premente de conhecermos a quantas anda mesmo a nossa pesquisa, tanto em áreas do conhecimento em que São Paulo tem larga tradição de competência, quanto em outras sobre as quais sabemos que estamos muito defasados em relação ao estado da arte internacional.

Percebemos, também, que existe uma necessidade aguda de sabermos como, de fato, estão as nossas instituições de pesquisa. Qual a capacidade produtiva e quais os grandes entraves para a realização de estudos extremamente relevantes, científica e socialmente, em nossos institutos estaduais de pesquisa? Qual a capacidade real de inovação dos laboratórios das nossas universidades? Qual é, em suma, nossa capacidade de geração de novos conhecimentos e novas tecnologias e em que medida essa capacidade está adequada aos imensos desafios do desenvolvimento do nosso Estado e do nosso país?

A necessidade de saber mais sobre isso é de muitos: de planejadores, políticos, administradores públicos, pesquisadores, jovens estudantes candidatos à carreira científica. A necessidade é, também – e talvez principalmente – da sociedade como um todo, que tem o direito de saber o que é, para que serve e como funciona essa área que consome volumes nada desprezíveis de dinheiro do contribuinte.

Assim, as indagações que essa necessidade inspira devem orientar novos estudos. São estudos destinados a perseguir respostas novas, não retóricas, não contaminadas pelo jargão de discursos cansativos sobre nossos males e carências. E certamente por sua preocupação em radiografar e fornecer respostas objetivas, poderão ser cruciais, tanto para os que querem apenas conhecer melhor a área de C&T, quanto para os que têm a obrigação de propor políticas e diretrizes destinadas a desenvolvê-la e a comprometê-la com os grandes desafios da sociedade brasileira.

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