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Carta do editor | 22

Revertendo a evasão de cérebros

Março de 1997, Boston. Cerca de 400 brasileiros, entre estudantes de pós-graduação, pesquisadores, dirigentes de instituições e agências de fomento à pesquisa e graduados funcionários do governo federal, reunidos no MIT para a I Conferência Brasileira de Ciência e Tecnologia, expressam duas preocupações fundamentais daquele fórum. Primeira: a viabilização de alternativas atraentes de aproveitamento, no Brasil, dos pesquisadores treinados no exterior. Segunda: a aplicação de C&T no desenvolvimento econômico e social do país.

Junho de 1997, São Paulo. Cerca de 200 pessoas, entre pesquisadores e empresários reúnem-se no auditório da FAPESP para assistir ao lançamento do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas, com a presença do governador Mário Covas, do Ministro da Ciência e Tecnologia, Israel Vargas e outras autoridades.

Aparentemente, não existem ou há apenas escassas relações entre o evento em São Paulo e a conferência organizada pelos ministérios de Relações Exteriores e da Ciência e Tecnologia, com patrocínio da Gazeta Mercantil. Mas é exatamente o oposto que se dá: o programa para pequenas empresas é uma das respostas que a FAPESP vem apresentando para aprofundar a ligação direta entre C&T e desenvolvimento sócio-econômico e, por efeito dessa política, também produzir uma reversão na decantada evasão de cérebros do Brasil para o exterior este, o grande tema subjacente aos debates de Boston.

Para ficarmos apenas nessa questão do “brain drain”, observe-se que o novo programa abre um campo para bons pesquisadores, com apoio da FAPESP, viabilizarem projetos fundados em seus conhecimentos, criando e impulsionando pequenas empresas de base tecnológica. Sem dúvida, isso responde em parte às “alternativas de reinserção profissonal de pesquisadores na iniciativa privada”, tão reclamadas em Boston.

Mas, dissemos, são respostas, no plural, que a Fundação oferece contra o “brain drain”. Outros exemplos são o programa de Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes e a extensão das bolsas de pós-doutoramento para até quatro anos, quando articuladas aos projetos temáticos de pesquisa. Nos dois casos, jovens doutores sem vínculo empregatício podem receber apoio financeiro da FAPESP para desenvolverem, por largo período, projetos significativos, até o ponto de criarem, eles próprios, mais adiante, novos núcleos de pesquisavinculados a instituições existentes.

Um dos efeitos prováveis do programa de jovens pesquisadores será a difusão da estrutura de C&T dentro do Estado de São Paulo. Já o alongamento das bolsas de pós-doutorado, além de representar um forte estímulo para a continuidade de pesquisas de jovens doutores brasileiros no país, deverá provocar até mesmo a vinda de promissores cientistas estrangeiros para o Brasil, numa espécie de “brain drain” às avessas. É este o sentido do acordo firmado entre a FAPESP e a instituição alemã DAAD e que já desperta também o interesse do British Council.

Tais iniciativas mostram, com certeza, que o movimento da evasão de cérebros pode ser enfrentado e revertido.

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