A revista científica Psychological Science, uma das mais prestigiadas no campo da psicologia, trocou de comando na virada do ano e apresentou novas iniciativas para ampliar o rigor na avaliação de artigos e a transparência dos dados que os embasam. Dois editoriais assinados pela nova editora-chefe, a australiana Simine Vazire, anunciaram medidas como a contratação de editores em uma nova área – transparência, estatística e rigor – para apoiar o trabalho dos demais editores em questões relacionadas a esses temas e também diversidade, equidade e inclusão. A nova equipe fará checagens de rotina em todos os manuscritos enviados para a revisão, além de verificações mais aprofundadas naqueles que receberem “aceitação condicional” dos avaliadores.
Pesquisadora da Escola de Ciências Psicológicas da Universidade de Melbourne, na Austrália, Vazire coordena um grupo de pesquisa em metaciência – o estudo dos processos da ciência – e tem sido uma voz atuante em um movimento que busca resgatar a confiança na pesquisa em psicologia, comprometida nos últimos 15 anos por escândalos envolvendo estudos com vícios estatísticos, resultados manipulados ou que não puderam ser confirmados. “Escolhê-la como editora é colocar no comando de uma de nossas instituições mais importantes alguém que está na vanguarda da reforma de métodos”, disse à revista The Economist o psicólogo Yoel Inbar, da Universidade de Toronto, no Canadá, que faz parte do corpo editorial da Psychological Science.
O compartilhamento dos dados de pesquisa pelos autores de artigos científicos se tornará uma exigência. “Como padrão, agora esperamos que todos os dados primários e materiais de pesquisa originais sejam disponibilizados publicamente em algum repositório confiável mantido por terceiros”, escreveu Vazire, ressalvando que casos excepcionais poderão ser considerados pelos editores.
O compartilhamento já era encorajado e, de acordo com um dos editoriais, 69% dos artigos publicados na revista em 2022 tinham dados abertos. Mas a oferta de dados, tomada isoladamente, não é suficiente para garantir a qualidade dos artigos: três estudos recentes relataram dificuldades em reproduzir resultados de papers publicados na Psychological Science. Para tentar reduzir esses problemas, receberão um selo de “reprodutibilidade computacional” os manuscritos que ofereçam os recursos necessários para que equipes independentes confirmem as análises computacionais realizadas.
O periódico também vai passar a publicar um tipo de trabalho, os relatórios registrados, que ampliam a transparência do processo científico. São papers que apresentam métodos e planos de análise de uma pesquisa ainda não iniciada. Uma de suas funções é garantir que os autores, quando publicam as conclusões de uma pesquisa, não distorceram suas hipóteses iniciais a fim de adaptá-las aos resultados obtidos, uma prática questionável que está na origem de casos de má conduta. A revista se compromete a também divulgar os resultados finais, mesmo que eles sejam nulos ou inconclusivos (ver Pesquisa FAPESP nº 274).
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