O Journal Citation Reports, plataforma da empresa Clarivate Analytics que calcula o fator de impacto (FI) de cerca de 22 mil revistas científicas, deixará de considerar citações feitas por ou a artigos retratados, ou seja, que foram invalidados após a publicação porque se constatou que continham falhas ou fraudes. O FI é uma métrica que computa o número médio de citações recebidas pelos artigos de um periódico. Um fator de impacto 50, alcançado em 2023, por exemplo, pela revista Nature, significa que os artigos publicados pelo periódico no biênio anterior foram mencionados em média 50 vezes nas referências de outros artigos – a medida é usada para determinar o prestígio e a influência de publicações.
Nandita Quaderi, vice-presidente da Clarivate, informou em um blog da empresa que, embora citações de e para artigos retratados representem apenas 0,04% dos papers indexados na base de dados Web of Science, o número de retratações vem crescendo nos últimos anos e poderia causar distorções no cálculo do FI de periódicos com muitos artigos invalidados, beneficiando-os. Periódicos como o Journal of Intelligent and Fuzzy Systems, o Journal of Healthcare Engineering e o Computational and Mathematical Methods in Medicine, por exemplo, envolveram-se em escândalos de má conduta e tiveram recentemente mais de mil retratações cada um deles. A decisão, segundo Quaderi, busca proteger a precisão da métrica.
Desde 2008, a Clarivate já desconsidera do cômputo do FI revistas que exigem comportamento anômalo, como excesso de citações aos próprios artigos ou intercâmbio de citações com outros títulos, truques usados para ampliar o impacto de modo artificial. A mudança pode gerar efeitos indesejados, segundo disse ao site Retraction Watch o biólogo e especialista em bibliometria Reese Richardson, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos. Segundo ele, editores de periódicos podem se sentir desestimulados a retratar artigos para evitar que isso reduza o FI de suas publicações.
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