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BOAS PRÁTICAS

Supercondutividade insustentável

A revista Nature retratou um artigo publicado em março que relatava a síntese de um inédito material supercondutor em temperatura ambiente. Segundo o trabalho, o composto de fórmula LuNH – material baseado no metal lutécio, misturado com nitrogênio e hidrogênio – seria capaz de conduzir eletricidade sem perda de energia na forma de calor, ou seja, com resistência zero, a uma temperatura de 294 Kelvin (K), o equivalente 21 graus Celsius (°C).

Oito dos 11 autores do artigo pediram que a publicação fosse cancelada, argumentando que a integridade do trabalho fora comprometida e que ele “não refletfe com precisão a procedência dos materiais investigados, as medições experimentais realizadas e os protocolos de processamento de dados aplicados”, conforme relatou o anúncio de retratação. O coordenador do estudo, Ranga P. Dias, professor de engenharia mecânica e física da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, não figura entre os autores que solicitaram a retratação e não informou à Nature se concordou com o pedido ou o desaprovou.

Os resultados observados pela equipe de Dias foram recebidos com ceticismo logo após a sua publicação, conforme relatou reportagem publicada em outubro na revista Pesquisa FAPESP. Pesquisadores haviam questionado medições da resistência elétrica do material, alegando que o trabalho não demonstrava de forma clara que a resistência caiu a zero. Logo se disseminou a impressão de que o LuNH não era propriamente um supercondutor.

Materiais supercondutores são capazes de transportar correntes elétricas sem perda de energia, mas os que existem funcionam apenas quando resfriados a temperaturas extremamente baixas. Grupos de pesquisa procuram há décadas materiais desse tipo que dispensem refrigeração.

Esse foi o terceiro artigo assinado por Dias a sofrer retratação. Em setembro de 2022, a Nature havia retratado um artigo publicado dois anos antes em que a equipe do físico alegava ter produzido um composto feito de carbono, hidrogênio e enxofre que se tornava supercondutor a 15 ºC – ainda que fosse necessário submetê-lo a uma pressão 2,6 milhões de vezes maior do que a da Terra. Em agosto passado, a revista Physical Review Letters (PRL) retratou um paper de 2021 sobre propriedades elétricas do dissulfeto de manganês (MnS2), que podia se comportar ora como isolante, ora como metal. A nota de retratação relatava haver “sérias dúvidas” sobre dados apresentados em uma figura sobre as curvas de resistência elétrica do material.

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