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Políticas Públicas

Tocando por música

“O meu pai era músico e sempre dizia que é possível tocar bem um instrumento “de ouvido”. Entretanto, a pessoa que toca assim terá muito mais dificuldade de tocar corretamente a melodia e em todas as suas nuances, porque não sabe ler a partitura. A maioria de nós, políticos, é assim: toca de ouvido.”

A lembrança e a comparação foi feita por Leonardo Marchesoni Rogado, prefeito de Porto Feliz, SP, ao comentar as suas expectativas, como administrador público, sobre o Programa de Pesquisas em Políticas Públicas, lançado oficialmente pela FAPESP no dia 11 deste mês, em solenidade na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, com a presença do presidente e diretores da FAPESP, do reitor da USP, Jacques Marcovitch, pesquisadores e políticos: que as pesquisas dele resultantes lhe permita tomar decisões e adotar políticas públicas setoriais baseado no conhecimento científico da realidade. Ou, na sua linguagem simbólica, “tocar por música, conhecendo a partitura.”

Marchesoni Rogado sintetizou muito bem os objetivos do novo Programa da FAPESP: as pesquisas desenvolvidas no seu âmbito devem produzir diagnósticos e resultados que, postos em prática por órgãos ou instituições governamentais responsáveis pela implementação de políticas públicas, contribua para a solução de relevantes problemas enfrentados pelos municípios paulistas ou pelo Estado de São Paulo, em qualquer área – saúde, educação, saneamento, transporte, meio ambiente, habitação, energia, agricultura, etc.

“O lançamento do Programa de Pesquisas em Políticas Públicas é um momento especial para a FAPESP, que tem feito um esforço muito grande no sentido de abrir o conhecimento para a sociedade”, disse o presidente do Conselho Superior da Fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, assinalando que a moeda mais valiosa no mundo de hoje é o conhecimento e o sucesso econômico e social de qualquer país ou sociedade dele depende. “O objetivo do novo Programa é fomentar a geração de conhecimento, levando-o ao Estado e aos administradores públicos, para que eles possam realizar seus planejamentos, fundamentados não em ideologias ou programas partidários, mas em conhecimento técnico.”

Essa proposta, segundo Brito Cruz, contempla um desafio, que é a interação entre o Estado e as universidades e centros de pesquisa. No seu âmago está uma resposta da comunidade acadêmica à seguinte questão: como a ciência melhora a vida das pessoas? “A ciência básica é de retorno imponderável. É importante levar nossas academias a se sentirem estimuladas a trabalhar com problemas aplicados, sem prejuízo do compromisso da FAPESP com a ciência básica e o conhecimento.”

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Francisco Romeu Landi, diretor presidente da Fundação, vê o Programa de Pesquisas em Políticas Públicas como o desdobramento deuma orientação imprimida pela FAPESP nos últimos anos, ao criar programas com feições nitidamente de indução. “A experiência começou com os projetos temáticos, reunindo pesquisadores multidisciplinares em torno de um tema, prosseguindo com os programas de inovação tecnológica, o de Ensino Público e o Projeto Genoma”, disse ele.

Na opinião do secretário de Ciência e Tecnologia, Flávio Fava de Moraes, também um membro da comunidade científica e acadêmica, ainda existe um enorme fosso de compreensão entre academia e governo. “Este, até por respeitar a autonomia das universidades e da própria FAPESP, tem no seu interior muita suspeição de que os problemas que enfrenta nem sempre encontram apoio da comunidade científica. Esta, por sua vez, acostumada ao livre pensar, não se preocupa muito em saber se o governo está interessado ou necessita de nossa ajuda e cooperação.”

O novo Programa da FAPESP procura estabelecer essa comunicação, não só pela realização de pesquisas aplicadas, como pela sua exigência de que os projetos de pesquisa, para serem aprovados, devem ser desenvolvidos em parceria entre um pesquisador e uma instituição ou órgão responsável pela implementação de seus resultados. “Vai representar um grande avanço nos hábitos e costumes do governo no que diz respeito ao atendimento das demandas e dificuldades sociais do país”, disse Fava.

Para o prefeito Leonardo Rogado, o trabalho do administrador público, em geral, deixa muito a desejar, quando ele não tem o conhecimento técnico e científico do seu lado. “As prefeituras vivem dificuldades e precisam aplicar cada centavo de sua arrecadação com bastante critério e obtendo o máximo de retorno social para as suas comunidades. Esse Programa pode ser o instrumento para que isso aconteça, ajudando o administrador na solução dos problemas mais agudos de seus municípios.”

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