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atividade solar

Uma nova mini-idade do gelo se aproxima?

Astrofísicos se perguntam se a baixa atividade solar poderá causar um resfriamento no clima da Terra nos próximos quatro anos

Manchas solares: atividade solar está em baixa nos últimos dois anos e pode influenciar o clima na Terra

Manchas solares: atividade solar está em baixa nos últimos dois anos e pode influenciar o clima na Terra

A atividade solar tem diminuído nos últimos dois ciclos de manchas e aparentemente vai continuar em baixa no próximo ciclo que está começando. O temor é de que a temperatura na Terra caia como há 300 anos, quando ocorreu a chamada Pequena Idade do Gelo. A agricultura entrou em colapso na Europa, trazendo muita fome. Pinturas da época retratam paisagens cobertas de neve. O crescimento das sequoias gigantes foi freado, como mostram os anéis anuais de biomassa depositados concentricamente no tronco. A queda na temperatura, em média de cerca de 0,4°em todo o globo, mas de até 1,5°C em algumas partes do hemisfério Norte durante o inverno, coincidiu com um período de mínima atividade solar, chamado Mínimo de Maunder em homenagem ao astrofísico britânico Edward W. Maunder (1851–1928), que descobriu o fenômeno em 1890. O número de manchas solares foi muito pequeno entre os anos de 1645 e 1715, a fase mais fria da Pequena Idade do Gelo. Um outro período com menor atividade solar, denominado Mínimo de Dalton, ocorreu no início dos anos 1800, mas foi menos pronunciado e mais breve e não provocou consequências climáticas notáveis.  Estudos de isótopos indicam que diversos eventos desse tipo ocorreram nos últimos milênios.

O número de manchas solares cresce e diminui ciclicamente, numa escala de tempo de 11 anos. A variação não tem nenhuma relação com o mecanismo central de produção de energia nuclear, que é muito estável. Trata-se de um fenômeno periférico, logo abaixo da fotosfera (camada externa extremamente fina e visível de uma estrela, a partir da qual os fótons escapam livremente para o espaço). Quando esse ciclo está em épocas de mínimo, como ocorre neste ano, é raro ver uma única mancha solar. Mas, no máximo do ciclo, como em 1990, o Sol chegou a apresentar 180 manchas. No pico do ciclo seguinte, em 2001, o máximo foi menor: 140 manchas. Para o próximo máximo, em 2012/13, a previsão é de que apareçam apenas 80 manchas. É possível que esse nível baixo de atividade solar se prolongue por mais uma ou duas décadas. Além do possível efeito climático adverso (esfriamento da temperatura da atmosfera da Terra), uma eventual nova mini-idade do gelo poderia mascarar a escalada do aquecimento global e levar a uma redução nas políticas de controle de emissão de CO2. E, quando o Sol voltasse à sua atividade normal, o aquecimento poderia disparar.

Embora as evidências empíricas sejam bem documentadas, os processos pelos quais as manchas solares atuam sobre o clima terrestre ainda são pouco conhecidos. Em termos de energia total, somada em todo o espectro eletromagnético,  desde raios X até ondas de rádio, a luminosidade solar é incrivelmente constante, variando de poucas partes em mil ao longo de anos. As manchas solares contribuem muito pouco para a soma total de energia emitida pelo Sol, mas produzem enormes variações na faixa de luz ultravioleta e nos raios X. Elas ejetam também nuvens volumosas de partículas elementares: elétrons e prótons. Essas erupções, tanto em ondas luminosas quanto em partículas eletricamente carregadas, são os candidatos óbvios para produzir alterações climáticas em nosso planeta. Algumas ejeções de plasma solar chegam a interromper as telecomunicações e a causar problemas em sistemas elétricos até o nível do solo terrestre. Mas qual é a cadeia específica de eventos que altera o clima na Terra? É inacreditável que tenhamos descoberto ainda em 1890 um problema que até hoje não foi solucionado.

Sabe-se que as manchas solares são produzidas por adensamentos de linhas de campo magnético que vêm do interior do Sol. O “enrolamento” das linhas de campo se deve a que elas se enroscam no gás que está em forma de plasma e que gira tanto mais rápido quanto mais perto do equador solar. As manchas nascem a altas latitudes (30 graus) e vão migrando gradativamente para o equador. No fim do ciclo, desparecem e, no ciclo seguinte, reaparecem de novo longe do equador, só que dessa vez com os polos magnéticos (Norte e Sul) trocados. Na verdade, o ciclo completo das manchas solares, levando em conta a polaridade magnética, é de 22 anos. Embora o Sol seja monitorado dia e noite, a cada segundo, em diversas faixas de comprimento de onda, a natureza desse ciclo é ainda desconhecida. Hoje se estuda a atividade de manchas em muitas outras estrelas e elas talvez possam ajudar a esclarecer a natureza do ciclo solar.

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