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Estratégias

Uma reunião da SBPC sem polêmicas políticas

Foram 66 simpósios, 33 conferências, 34 minicursos e 2.724 pôsters apresentados por estudantes, com resultados de pesquisa, assistidos por um público estimado em 11 mil pessoas, que circulavam entre os auditórios e salas de curso, a feira de livros, a SBPC Jovem, as mostras culturais e a Expociência. Foi assim a 54ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso de Ciência (SBPC), realizada de 7 a 12 de julho, em Goiânia, no campus da Universidade Federal de Goiás, e que homenageou os cientistas José Reis e Alberto Carvalho da Silva.

Tendo como tema central “Ciência e universidade rompendo fronteiras”, professores e estudantes de todo o país – com uma presença marcante dos do Centro-Oeste – debateram da nanociência à clonagem, passando pelas mudanças climáticas, o ensino a distância, energias renováveis e até o papel das ciências sociais hoje no Brasil. Como se constatou ao final, houve poucas polêmicas políticas, o que não quer dizer que temas atuais e importantes da realidade brasileira não tenham sido objeto de reflexão.

Isto esteve mais flagrante nos três grandes ciclos temáticos, discutidos ao longo da semana, uma novidade dessa 54ª reunião. Os ciclos “Projetando o Brasil – Censo 2000”, “Por uma agricultura sustentável” e “Preparando a universidade do futuro”, trouxeram para discussão alguns desafios do país, que estão a exigir novas políticas públicas, como o novo padrão demográfico da sociedade brasileira, os entraves e as alternativas para aumento da produção agrícola, e uma avaliação da universidade e o desafio de expandir o acesso ao ensino superior.

O primeiro debateu com maior profundidade dados do censo demográfico divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio passado, que revelam o envelhecimento da população brasileira, resultado da queda da taxa de fecundidade feminina e da menor taxa de mortalidade infantil. A taxa de fecundidade por si só também preocupa. A fecundidade feminina passou de 6,16 filhos, em média, por mulher, em 1940, para 2,35 filhos, em 2000, taxa muito próxima daquela considerada mínima para garantir a reposição de gerações, que é de 2,1 filhos, em média. Uma taxa presente em alguns países europeus, como a Inglaterra, que chegou a ela ao longo de 120 anos; no Brasil, bastaram 20.

Se o país precisa preparar-se para sua nova realidade populacional, necessita também aumentar sua produção agrícola e reduzir as importações. Como? Entre as sugestões apresentadas estão a adoção de uma política restritiva à importação de produtos agrícolas subsidiados, o apoio à agricultura e à agroindústria familiares e um plano nacional que estabeleça áreas e critérios para uma reforma agrária sem conflitos. Antes disso, contudo, é preciso definir mais claramente se somos um país urbano ou rural. Hoje, os dados estatísticos indicam que 82% da população brasileira está nas cidades.

Mas, para chegar a esse índice, usa-se o critério (um decreto-lei de 1938) de considerar toda sede de município como cidade e, portanto, sua população como urbana. Um critério que foi contestado e que esconderia um Brasil rural com 30,5% da população brasileira, se fossem considerados rurais os municípios com menos de 50 mil habitantes, menos de 80 habitantes por km2 e afastados de aglomerações metropolitanas.

E como não poderia deixar de ser em uma reunião que falava em rompimento de fronteiras e pela primeira vez se realizava em uma capital do Centro-Oeste, não faltaram muitos e importantes trabalhos sobre o Cerrado – ocupação agrícola, manejo da biodiversidade, o uso de plantas no controle biológico, bem como sobre o próprio processo de ocupação da região. Legitimando essa importância, foi decidido que, após a reunião anual de 2003, que será realizada em Recife, a seguinte, a 56ª, será em Cuiabá.

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