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Carta do editor | 81

Uma vacina diferente

Duas reportagens disputaram a capa desta edição de Pesquisa FAPESP. Optamos pela que mostra um trabalho promissor em fase importante, que poderá vir a ajudar um grande número de pessoas. Trata-se da primeira vacina gênica (ou de DNA) brasileira planejada inicialmente para combater a tuberculose e que pode ser eficaz, a partir de resultados experimentais, com pequenas variações na composição e na dosagem, contra vários tipos de câncer, leishmaniose e artrite. Em três meses, a vacina sai dos laboratórios da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto para ser testada em seres humanos, já com a aprovação do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. A formulação vem sendo trabalhada sob a liderança da equipe de Ribeirão há alguns anos e recebeu a contribuição de pesquisadores de outras plagas, como a de grupos da USP de São Paulo, do Instituto Butantan, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Rio de Janeiro (UFRJ).

Pesquisa FAPESP acompanha o trabalho há anos e já fez dele sua principal reportagem em junho de 1999, na edição 43. Esta presente edição é um dos raros casos em que repetimos a mesma pesquisa na capa, desta vez, a cargo do editor de Ciência, Carlos Fioravanti. Embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido até que a vacina se prove eficaz, segura e ganhe as prateleiras das farmácias hospitalares, todos esses pesquisadores vêm cumprindo um trabalho notável, reconhecido pela comunidade científica internacional, cujas revistas especializadas têm aceitado, com freqüência, seus artigos para publicação.

Esses grupos que lidam com a vacina gênica não são exceção. A produção científica brasileira vem ganhando corpo. Mas no último mês surgiu uma pequena polêmica sobre o assunto: depois de três décadas de crescimento contínuo, a produção de artigos por pesquisadores brasileiros estaria em queda? A nossa outra candidata a capa – pelo interesse que provoca na comunidade científica – é uma cuidadosa reportagem da editora de Política Científica e Tecnológica, Claudia Izique, mostrando exatamente o contrário. Tomando por base dados do Institute for Scientific Information (ISI), divulgados pelo National Science Indicator, pode-se constatar que o número de publicações do Brasil cresce mais em relação ao dos demais países. Em 2001, os brasileiros publicaram 1,44% dos artigos científicos do mundo, o que equivale a cerca de 40% dos papers publicados pelos latinos-americanos no mesmo período. A reportagem traz outras informações que esclarecem como essa produção é medida e lembra que a ciência feita no Brasil é maior do que a indexada no ISI.

Um outro debate que vem ocorrendo há algum tempo também merece destaque. As regras que regem as patentes estão em xeque em todo o mundo, até mesmo na Organização Mundial do Comércio (OMC), que já prevê estender um mínimo de proteção para a propriedade intelectual a todos os seus países membros até 2006. O tema tem esquentado o clima entre nações ricas e menos desenvolvidas a cada vez que surge alguma querela, especialmente nas áreas de biotecnologia e da indústria farmacêutica. A reportagem que começa na página 26 ajuda a entender a questão.

Na seção de Tecnologia, o editor Marcos de Oliveira conta as mais recentes novidades sobre o desenvolvimento de amplificadores ópticos por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas. Os aparelhos são fundamentais para melhorar a capacidade de transmissões das redes de telefonia. Por fim, em Humanidades, informamos sobre um projeto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) que pretende discutir como se deu, historicamente, a crescente especialização do saber científico.

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