A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Educação) de 2016, divulgada em dezembro passado, trouxe uma boa notícia: o ensino fundamental no Brasil, do 1º ao 9º ano, pode ser considerado universal, com 99,2% das crianças matriculadas na escola. Já no ensino médio a taxa cai para 87,9%.
Garantir o acesso é um passo importante, mas ainda falta chão até que a educação sendo oferecida permita que as crianças cheguem ao ensino médio na idade certa e com um desempenho que alcance os níveis de aprendizagem desejados. A reportagem de capa desta edição trata de um fenômeno associado à ampliação do acesso: crescentes diferenças nos níveis de aprendizagem.
Estudos do Núcleo de Pesquisa em Desigualdades Escolares (Nupede) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostram que a desigualdade antes presente no acesso à escola agora se manifesta dentro dela: crianças da mesma idade podem apresentar diferença de até três anos de escolarização. Essa desigualdade está, segundo os estudos, associada a outras: alunos com mais de uma característica relacionada à exclusão social apresentam pior desempenho. Foram usados critérios como escolaridade e ocupação dos pais, renda familiar, raça e gênero. O domínio rudimentar da leitura e da matemática, como mostram estudos baseados no desempenho das crianças na Prova Brasil, leva à formação de cidadãos com deficiências que lhes acompanharão por toda vida, além de constituir uma barreira para o acesso ao ensino médio e superior.
A falta de outro tipo de educação, no caso a fluência em inglês, é vista pelo geneticista britânico Peter Pearson como uma deficiência marcante entre os alunos de pós-graduação brasileiros. Em entrevista à Pesquisa FAPESP, o pesquisador, que participou do Projeto Genoma Humano nos Estados Unidos e foi professor em universidades como Oxford (Reino Unido), Utrecht e Leiden (ambas na Holanda), defendeu que a disseminação do uso do inglês terá impacto na capacidade de publicar artigos de qualidade e de conseguir financiamento para a pesquisa.
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O medo de contrair febre amarela, doença que foi tema principal da edição anterior desta revista, causou filas gigantescas nos postos de saúde paulistas no último mês. Dúvidas circularam sobre a eficácia da vacina fracionada. Com o objetivo de contribuir para a discussão, Pesquisa FAPESP procurou mostrar quais as bases científicas por trás do fracionamento. Há estudos que respaldam o uso da vacina fracionada como forma de proteção contra o vírus, mas não há ainda certeza sobre a duração desse efeito, ficando em aberto a questão sobre a necessidade de doses de reforço.
Outras leituras interessantes desta edição incluem uma reportagem sobre a chamada inversão da seta do tempo, com um objeto frio cedendo calor para um quente, contrariando, aparentemente, as leis da termodinâmica; a caracterização de um novo anel de Saturno, visível apenas sob condições especiais; e estrelas de outras galáxias canibalizadas pela Via Láctea. A judicialização da vida brasileira, dessa vez na esfera dos direitos da população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, é objeto de reportagem à página 86, que mostra que os direitos adquiridos por esses grupos no Brasil provêm de decisões do Judiciário, e não do Legislativo.
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