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Boas práticas

Universidade conclui que artigo sobre beleza e desempenho de alunas de engenharia não foi antiético

Um artigo controverso segundo o qual alunas bonitas são favorecidas por professores desencadeou uma denúncia de desvio de boas práticas de pesquisa relacionado à proteção de dados pessoais. A acusação, contudo, foi considerada improcedente tanto pelo Conselho de Apelações em Revisão Ética da Suécia quanto por uma consultora externa contratada pela Universidade de Lund, instituição onde o autor do paper, o economista sueco Adrian Mehic, de 29 anos, realizou o estudo durante seu doutorado.

No artigo publicado em agosto de 2022 na revista Economic Letters, Mehic apresenta dados segundo os quais alunas de engenharia da Universidade de Lund que eram bonitas e atraentes tiveram desempenho acadêmico deteriorado quando as aulas deixaram de ser presenciais durante a pandemia, o que não aconteceu com os colegas do sexo masculino também bem-apessoados. Para chegar a tal conclusão, submeteu fotos dos estudantes obtidas em seus perfis nas redes sociais ao crivo de um grupo de 74 alunos do ensino médio, que os classificou segundo a aparência.

Em seguida, esses dados foram cruzados com as notas dos estudantes. A conclusão de Mehic foi de que, no ensino presencial, os professores de engenharia tenderiam a favorecer as alunas bonitas. Na ausência da interação presencial, esse efeito desaparece. “Foi estranho, mas, considerando que a maioria dos professores são homens, poderíamos dizer com segurança que eles discriminaram favoravelmente as mulheres atraentes”, disse Mehic à rede Fox.

O estudo foi duramente criticado. Várias alunas reclamaram que não deram autorização para que suas imagens fossem analisadas e que os dados não foram devidamente anonimizados, permitindo que elas fossem facilmente identificadas. Mehic foi, então, denunciado ao comitê de ética da instituição. Em fevereiro, o Conselho Nacional de Apelações já havia dado seu veredicto: considerou que os dados pessoais coletados não eram de natureza sensível e que o autor, portanto, não precisaria ter solicitado aprovação de um comitê de ética para utilizá-los. Jane Reichel, especialista em ética da Universidade de Estocolmo contratada para analisar o caso, também avaliou que o artigo não desrespeitou as normas de proteção de dados vigentes na Europa e seguiu os padrões éticos exigidos pela revista Economic Letters.

“Eu entendo que a beleza é um tema às vezes controverso”, afirmou Mehic, por e-mail, ao serviço de notícias Retraction Watch – atualmente, ele é professor assistente no Instituto de Pesquisa em Economia Industrial de Estocolmo. “No entanto, os sujeitos da pesquisa decidiram voluntariamente compartilhar seus dados on-line. E eles podem ser usados por terceiros para determinados fins, inclusive comerciais, já que as redes sociais são conhecidas por vender dados para empresas, ou de pesquisa.”

Em um comunicado, o vice-reitor da Universidade de Lund, Erik Renström, comunicou os resultados da apuração, mas não poupou Mehic de críticas. “Os sujeitos da pesquisa poderiam ter sido informados individualmente sem que isso implicasse um esforço desproporcional para Adrian Mehic (…). A realização do estudo pode, portanto, ter acarretado consequências antiéticas mesmo que a letra da lei tenha sido seguida”, escreveu.

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