A reportagem de capa desta edição de Pesquisa FAPESP parece-me especialmente agradável, leve, fácil de ler. Faz parte do trabalho da equipe que a cada mês prepara esta revista, é claro, mostrar em textos jornalísticos claros, inteligíveis para especialistas e leigos, alguns dos melhores projetos de pesquisas científicas e tecnológicas desenvolvidas neste país. Muitas vezes, contudo, essa é uma missão árdua, dada a complexidade, a dureza mesmo, das explicações e dos textos científicos, não raro atravessados por fórmulas, equações e conceitos muito específicos e sofisticados. Não neste mês, decerto, em que, na seção de Humanidades, conseguimos juntar ciência com arte na bela reportagem do editor especial Marcos Pivetta sobre a arte rupestre nacional.
Só recentemente, pouco mais de 20 anos para cá, começou-se a dar mais atenção às imagens pré-históricas pintadas em cavernas ou fora delas e gravadas em pedras no território brasileiro. Antes disso, a atenção estava quase sempre mais voltada para outras formas de vestígio arqueológico. Uma injustiça, como o demonstram dois livros lançados recentemente e que exploram com linguagem simples esse mundo gráfico construído por nossos antepassados e mostram a diversidade de técnicas, formas e temas que o integra na Amazônia e no Nordeste. Nesse mundo, pinturas e gravações na pedra, feitas há milhares de anos, espalhadas por todas as regiões do Brasil, representam pessoas interagindo entre si e com animais, em cenas de caça, dança e sexo.
Em Política Científica e Tecnológica vale destacar uma reportagem que mostra efeitos, para muito além do esperado, de uma divulgação científica feita com alta competência e critério. A editora Claudia Izique relata como o sistema de publicação eletrônica de revistas científicas ibero-americanas de acesso aberto, a Rede SciELO, chegou à marca de 200 títulos no mês. No Brasil, são 131 revistas na base SciELO, que registra cerca de 1 milhão de acessos por mês. A rede começou a funcionar com publicações brasileiras, mas evoluiu para incorporrar revistas de outros países ibero-americanos. Hoje, Brasil, Chile, Cuba e Espanha são cobertos pela rede, mas Argentina, Colômbia, México, Peru e Venezuela participarão dela em breve.
Presentes nas melhores revistas científicas do país e do exterior, os estudos sobre análise de proteínas já mobilizam mais de 200 grupos de pesquisa nessa área, batizada de proteômica. Agora se quer identificar a estrutura, a função e os modos de interação dessas moléculas, codificadas pelos genes. Em outubro, começaram a funcionar dois novos equipamentos do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, que permitem identificar a seqüência de aminoácidos. Isso coloca o país entre aqueles com tecnologia para analisar em detalhes a estrutura das proteínas. Grupos de qualquer parte do país, relatam o editor assistente de Ciência Ricardo Zorzetto e a repórter Ruth Bellinghini, poderão trabalhar com os dois espectrômetros de massa – financiados pela FAPESP num total de US$ 1,3 milhão -, desde que as propostas sejam aprovadas pelo laboratório. A perspectiva é que esses estudos ajudem a encontrar soluções na área de saúde e agricultura.
Em Tecnologia, as plantas mais uma vez merecem destaque nas páginas de Pesquisa FAPESP. Um arbusto originário da Mata Atlântica, a pariparoba, relata a editora assistente Dinorah Ereno, mostrou ter atividade protetora contra os raios ultravioleta do tipo UVB, os mais lesivos para a pele. A descoberta, feita por equipe da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, já levou a um pedido de patente e interessou a uma empresa nacional, que venceu a licitação de concessão de licença para utilização do extrato da raiz no desenvolvimento de produtos de uso cosmético. Um exemplo de bom casamento entre universidade, empresa e pesquisadores.
Por fim, não deixe de ler o conto do escritor Nelson de Oliveira, uma imaginativa história sobre o nascimento e morte de descobertas e conceitos científicos. Tudo discutido numa longa e demorada fila do correio.
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