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Memória

Ajuda do passado

Quatro pequenas centrais hidrelétricas que se tornaram museus voltam a gerar eletricidade

ACERVO DA FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO Serviço de aterramento da Usina em Salesópolis, em 1939ACERVO DA FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO

A partir de 1999 a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) recebeu quatro pedidos de concessão para geração de eletricidade. Ao contrário de outras solicitações rotineiras, daquela vez os executivos da agência não souberam, de imediato, como agir. Pela primeira vez, a solicitação partiu de uma instituição sem fins lucrativos. Mais: tratava-se de reativar pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) históricas, consideradas obsoletas e desativadas havia muitos anos.

As PCHs para as quais foram pedidas a concessão a partir de 1999 eram as usinas Corumbataí, de Rio Claro, São Valentim, de Santa Rita do Passa Quatro, Jacaré, de Brotas, e Salesópolis, da cidade do mesmo nome, todas do interior de São Paulo. Desde 1998 as quatro pertencem à Fundação Energia e Saneamento, instituição paulista criada na mesma época em razão da privatização das empresas de energia. “Havia uma preocupação do governo em evitar que o vasto acervo acumulado desde o século XIX pelas companhias se perdesse quando elas mudassem de dono”, diz Márcia Pazin, supervisora de Serviços e Projetos Especiais da fundação, para quem as PCHs foram doadas. As hidrelétricas passaram a ser administradas como usinas-parque, onde os visitantes aprendem a história da energia da região e participam de atividades de educação ambiental.

ACERVO DA FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO Construção da barragem da Usina de Jacaré, na década de 1940ACERVO DA FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO

Dois fatores levaram à reativação das usinas, aprovadas pela Aneel. Como instituição privada, sem fins lucrativos e sem mantenedores fixos, os recursos com a venda da energia ajudariam na sustentabilidade dos projetos culturais e educativos da fundação. A demanda cada vez maior por energia em São Paulo também incentivou a retomada da geração. Foi então aberta uma concorrência pública. Dos 25 interessados, a Herber Participações, do grupo Bertin, foi a que atendeu a todos os requisitos e ofertou o melhor retorno. O investimento nas quatro PCHs é de R$ 14 milhões.

Em março deste ano a hidrelétrica do Museu da Energia Usina-Parque de Salesópolis voltou à vida. Nos próximos meses será a vez das outras três. A mais antiga é de Corumbataí, inaugurada em 1895 e reformada e reinaugurada em 1900. A São Valentim é de 1910, a Salesópolis, de 1913, e a mais nova, Jacaré, de 1944. Todas foram desativadas entre os anos 1970 e 1980. Com a reativação, as usinas deverão gerar 36 mil megawatts hora por ano (MWh/ano) suficientes para atender 15 mil residências de padrão médio com um consumo mensal de 200 quilowatts hora por mês (kWh/mês). A energia das PCHs complementará a que é fornecida por outras concessionárias.

ACERVO DA FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO Usina de Corumbataí na década de 1890, cercada pela população do município de Rio ClaroACERVO DA FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO

Em paralelo à reativação, especialistas da fundação, junto com historiadores da Universidade de São Paulo e Universidade Estadual Paulista, trabalham em projeto apoiado pela FAPESP para catalogar e divulgar o acervo histórico da energia elétrica de São Paulo. No site www.museudaenergia.org.br estão disponíveis algumas séries de fotos. Deverão ser publicados on-line, ainda, plantas, mapas, projetos técnicos, documentos de relações com o poder público e o patrimônio arquitetônico e industrial do setor. “Tudo estará disponível para pesquisadores e interessados na memória paulista da eletricidade”, revela Isabel Felix, historiadora da fundação.

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