Secas severas e frequentes podem se tornar comuns até o final deste século em decorrência das mudanças climáticas e afetar simultaneamente até 60% das áreas nas quais se planta trigo no planeta, cereal responsável por 20% das calorias ingeridas no mundo. Esses dados resultam de simulações computacionais realizadas por pesquisadores da Europa e dos Estados Unidos sob a liderança de Miroslav Trnka, especialista em análise de eventos climáticos extremos e seca do Instituto de Pesquisa sobre Mudanças Globais, na República Checa. Eles desenvolveram uma estratégia de quantificar a escassez severa de água em áreas produtoras de trigo e o risco de ocorrerem eventos múltiplos e seguidos de seca. Sem esforços para reduzir o aumento médio da temperatura do planeta, quase dois terços das plantações de trigo do mundo podem enfrentar eventos simultâneos de seca intensa até 2100. Hoje há o risco de isso acontecer em 15% das áreas produtoras de trigo. Reduzir a emissão de gases que aumentam a temperatura para os níveis estipulados no Acordo de Paris diminuiria mais o dano do que se nada fosse feito. Mesmo assim, secas severas poderão atingir até 30% das áreas produtoras de trigo entre 2041 e 2070, causando escassez de alimentos, instabilidade política e migrações em massa (Science Advances, 25 de setembro). Entre 1985 e 2007, o efeito das secas sobre áreas produtoras de trigo foi o dobro do registrado no período 1964-1984. Segundo os autores, mesmo as estratégias de mitigação não devem evitar os episódios de seca severa.
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Com as alterações do clima, pode faltar pão

Plantação de trigo na Europa
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