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Brasil

Estratégias para deter a raiva

Das 150 espécies de morcegos encontradas no Brasil, três se alimentam de sangue e só uma, a Desmodus rotundus, ataca mamíferos como os seres humanos. O desmatamento faz o D. rotundus ou morcego-vampiro buscar sangue nos povoados e nas fazendas de criações de gado, porcos e ovelhas próximos a florestas. Para evitar a transmissão da raiva, doença causada por um vírus que afeta o sistema nervoso, o Ministério da Agricultura recomenda o uso de uma pasta à base de warfarina, substância que impede a coagulação do sangue.

Aplicada no dorso de alguns poucos morcegos, a warfarina pode eliminar uma colônia inteira de até 300 indivíduos, por causar hemorragia, já que os animais espalham o veneno ao se lamberem uns aos outros. Mas essa estratégia é ineficaz por duas razões, segundo Friederike Mayen, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisas Agronômicas para o Desenvolvimento (Cirad, na sigla em francês).

Em um estudo publicado no Journal of Veterinary Medicine Series B, Mayen argumenta que, além de não reduzir de modo contínuo os casos de raiva entre as criações, o uso da pasta gera um problema ambiental grave: não são apenas os morcegos-vampiros que morrem, algo por si só desnecessário para evitar a transmissão da raiva.

Como as colônias podem reunir também espécies que comem frutos e insetos, a warfarina pode atingir essas outras, essenciais à disseminação de plantas e ao controle de insetos noturnos. Uma solução mais eficaz? Estimular a construção de casas sem frestas, o uso de repelentes de morcegos e a vacinação das criações contra a raiva.

No país há 191 milhões de cabeças de gado, mas apenas um quarto recebe vacina anti-rábica a cada ano. Segundo Guilherme Marques, do Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros do Ministério da Agricultura, o uso da pasta deve, em princípio, atingir apenas o Desmodus rotundus, que vive em colônias coesas, formadas por uma única espécie.

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