Mais de 300 obras e documentos, incluindo diários, cartas, manuscritos, fotos e pinturas de intelectuais que fizeram parte de iniciativas envolvendo o Modernismo brasileiro estão expostos na mostra Era uma vez o moderno (1910-1944), aberta ao público em 10 de dezembro em São Paulo. No marco do centenário da Semana de Arte Moderna, a ser completado em fevereiro do próximo ano, a iniciativa foi organizada por intermédio de parceria entre o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) e o Centro Cultural da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Fica em cartaz até maio no prédio da Fiesp.
A mostra, desenvolvida principalmente a partir do acervo do IEB, revela ao público documentos até então acessíveis somente a pesquisadores, caso de um diário da pintora Anita Malfatti (1889-1964), com relatos sobre os bastidores de suas exposições. Em um desses textos, ela conta que com pressa, a caminho de sua primeira exposição individual, organizada em 1914 no centro de São Paulo, decidiu comprar sapatos novos, mesmo sem tempo para prová-los. Os calçados ficaram pequenos e ela acabou por entrar descalça no salão, com o par de sapatos na mão.
Em 1917, em exposição individual organizada depois de a artista passar uma temporada nos Estados Unidos, um dos primeiros a aparecer foi o escritor Mário de Andrade (1893-1945), um autor então desconhecido. Era um dia de chuva e ele chegou encharcado, parou em frente às obras expostas e começou a gargalhar. No diário, Malfatti conta que olhou aquele homem de longe e pensou se tratar de um louco. Dias mais tarde, o escritor voltou à exposição e se apresentou como poeta, apontou para O homem amarelo e disse: “Esse quadro já é meu”. A obra, bem como O mamoeiro, produzido por Tarsila em 1925, está exposta na mostra, que inclui objetos, diários e fotos resultantes de viagens de Mário de Andrade à região amazônica e ao Norte e Nordeste do Brasil. Também pode ser vista carta de 1929 em que Mário de Andrade comunica à pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) seu rompimento com o escritor Oswald de Andrade (1890-1954).