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Carreiras

Na órbita da medicina

Estudante da USP de Ribeirão Preto é premiada pela descoberta de asteroides em programa coordenado pela Nasa

Verena Paccola: múltiplos interesses científicos

Léo Ramos Chaves

Há dois anos, com o intuito de aliviar a rotina de estudos para ingressar na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), a paulista Verena Paccola decidiu se inscrever no programa Caça Asteroides do International Astronomical Search Collaboration da Nasa, promovido no Brasil em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Em dois meses, conseguiu identificar 25 desses corpos celestes, um deles considerado de grande relevância devido à possibilidade de se chocar com a Terra.

“Fiquei sabendo da oportunidade de participar do programa em uma rede social. Preenchi o cadastro e logo fui chamada para iniciar o treinamento on-line e assim aprender a analisar as imagens do Universo”, conta Paccola, 22 anos, que se dedicou às buscas entre junho e julho de 2020. As investigações não foram feitas vasculhando o céu durante a noite, mas utilizando um software que disponibiliza pacotes de imagens obtidas por um telescópio posicionado no Havaí, nos Estados Unidos. A partir delas, os participantes produzem relatórios com análises e descrições que são avaliados pela equipe do programa. “Toda semana era divulgada uma lista das pessoas que haviam descoberto asteroides. Minha primeira descoberta foi divulgada na terceira semana. Já na semana seguinte, constavam 13 asteroides sob minha responsabilidade. E assim cheguei aos 25 registrados”, comemora.

O interesse pelo campo científico da jovem nascida em Campinas e criada em Indaiatuba, no interior de São Paulo, vem desde a infância. “Lembro de um dia em que pudemos levar brinquedos para a escola e apareci com um microscópio a pilha que ganhei de uma tia”, conta. “Também gostava de ler livros sobre o funcionamento do corpo humano, mais especificamente sobre o cérebro.” No sexto ano do ensino fundamental, criou e liderou uma equipe de robótica para participar da First Lego League, torneio mundial realizado em diferentes países.

A equipe saiu-se vencedora em diversas etapas regionais e nacionais. Em 2017, no ensino médio, cursado no Colégio Técnico de Campinas na área de enfermagem, criou um grupo de estudos com a intenção de participar da Olimpíada Brasileira de Neurociências promovida pelo Hospital Israelita Albert Einstein. “Como tive um bom desempenho, em 2018 fui chamada para fazer um estágio com eles na área de neurociência computacional para pessoas com transtorno do espectro autista”, conta.

No ano seguinte, foi selecionada para integrar uma equipe de jovens que participaram da Assembleia da Juventude da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Nova York, nos Estados Unidos. “Fiz a inscrição, mas nem imaginava que seria convocada, pois me inscrevo em tudo que vejo”, brinca. Ainda em 2019, Paccola estudou neurociência comportamental por um semestre na University of British Columbia, em Vancouver, no Canadá. “Deixei o curso ao perceber que minha prioridade era mesmo estudar medicina.”

A entrega do prêmio no MCTI, realizada em Brasília, em dezembro, teve a participação de Patrick Miller, criador e coordenador do programa Caça Asteroides. Durante a cerimônia, Paccola foi surpreendida pela notícia de que fora responsável pela descoberta de um asteroide importante, que lhe rendeu um troféu além da medalha de honra ao mérito. “Esse asteroide é chamado de fraco, pois faz parte de um grupo que se movimenta mais devagar”, explica.

Usuária frequente de redes sociais – só no Instagram ela reúne mais de 41 mil seguidores –, Paccola costuma publicar conteúdos sobre diferentes assuntos relacionados ao campo da ciência, além de seu cotidiano como estudante de medicina. A produção de roteiros, gravação e edição dos vídeos também é assinada por ela. “Meu maior prêmio é saber que estou servindo de inspiração para meninas que se interessam por ciência”, finaliza.

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