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Carreiras

Na teia do rock

Bióloga homenageia músicos de bandas famosas ao descrever novas espécies de aranhas

Cristina Anne Rheims já descreveu mais de duas centenas de novas espécies de aranhas

Léo Ramos Chaves

A pesquisadora do Instituto Butantan Cristina Anne Rheims tornou-se famosa entre artistas e fãs de heavy metal. Em 2019, após descobrir quatro novas espécies de aranhas provenientes de matas de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, a cientista decidiu batizá-las com nomes de vocalistas de bandas conhecidas desse gênero musical. “Como sou muito fã de rock, aproveitei a oportunidade para homenagear músicos que admiro”, explica a bióloga paulistana de 46 anos.

As novas aranhas descobertas por Rheims são da família Sparassidae, investigada por ela desde 2003, quando iniciou seu doutorado em ciências biológicas no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Os quatro roqueiros homenageados são André Matos (1971-2019), vocalista das bandas brasileiras Viper, Angra e Shaman; Bruce Dickinson, da britânica Iron Maiden; Klaus Meine, da alemã Scorpions; e Rick Allen, baterista da britânica Def Leppard.

Os nomes científicos foram respectivamente definidos como Extraordinarius andrematosi, Extraordinarius brucedickinsoni, Extraordinarius klausmeinei e Extraordinarius rickalleni. “Dei esse nome ao gênero por serem artistas realmente extraordinários”, informa.

Com tamanho médio de 1,5 centímetro (cm) – podendo chegar a 2 cm considerando as pernas –, as aranhas descobertas por Rheims vivem em matas de regiões neotropicais, têm hábitos noturnos e não oferecem risco ao ser humano. Devido à impossibilidade de identificar uma nova espécie com precisão, durante pesquisas de campo, as aranhas são recolhidas para posterior análise em laboratório. “Em geral, a comprovação de que se trata de uma nova espécie é obtida com a análise da genitália. Assim como uma impressão digital, ela é única em cada animal”, diz a pesquisadora.

A repercussão das aranhas catalogadas por Rheims foi grande entre os fãs das bandas e os próprios artistas, tendo o estudo sido noticiado em diversos sites e emissoras de rádio em pelo menos 16 países, a maioria deles da Europa. “Rick Allen e Klaus Meine, por exemplo, chegaram a agradecer a homenagem em suas redes sociais”, lembra. A prática de batizar descobertas científicas com nomes de celebridades é algo comum entre cientistas. Artistas como David Bowie (1947-2016) e Angelina Jolie são exemplos de personalidades cujos nomes foram usados para batizar espécies de aracnídeos. “Existe um gênero inteiro de aranhas chamado Orsonwelles, em homenagem a Orson Welles [1915-1985], cujas espécies levam nomes de filmes do diretor”, completa. Antes disso, Rheims e colaboradores já haviam homenageado o ator Arnold Schwarzenegger e o filme O Predador com o nome Predatoronoops schwarzerneggeri dado a uma aranha da família Oonopidae.

Distribuídas entre 120 famílias e 4.157 gêneros, atualmente existem cerca de 48.500 espécies de aranhas catalogadas em todo o mundo. Desde que começou a desenvolver pesquisa no Instituto Butantan, em 1996, Rheims foi responsável pela descrição de 246 novas espécies e oito novos gêneros. “Como existem muitas espécies de aranhas que ainda são desconhecidas, com certeza veremos outras homenagens pela frente”, finaliza.

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