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Brasil

O Cerrado, seco e belo

A engenheira florestal Giselda Durigan começou há 20 anos a fotografar as plantas do Cerrado paulista com o propósito de facilitar o reconhecimento das espécies. Com o tempo, seu trabalho se somou ao de outros dois pesquisadores do Instituto Florestal, João Batista Baitello e Geraldo Franco, e ao de Marinez Siqueira, do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), e resultou em livro que abre o olhar para as formas e sutilezas de uma vegetação vista normalmente com desdém, o Plantas do Cerrado paulista – Imagens de uma paisagem ameaçada (Páginas&Letras Editora, 476 páginas, R$ 150,00).

Publicada com apoio da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jipa), a obra é provavelmente o maior levantamento já realizado do Cerrado paulista, com descrições de 420 espécies, acompanhadas pelas imagens de folhas, frutos e flores.

“Só quando se sentem próximas das plantas as pessoas começam a pensar em preservação”, observa Giselda. Sem deixar a ciência ficar atrás da estética, os autores apresentam como espécies distintas o pau-santo (Kielmeyera coriacea), uma árvore de tronco tortuoso e flores grandes com pétalas brancas, antes confundida com a malva-do-campo (Kielmeyera variabilis), subarbusto de até 1 metro de altura e flores levemente diferentes.

Além disso, reconhecem o cedro-do-brejo (Cedrela odorata variedade xerogeiton), outra árvore de casca espessa, encontrada exclusivamente em terrenos úmidos, como um grupo distinto do cedro (Cedrela odorata), típico de solos secos.

Uma das raridades do livro é o feijão-de-campo (Clitoria densiflora), com até 50 centímetros e flores lilases ou azuladas, nunca antes coletado em São Paulo. “Sua identificação”, conta Giselda, “foi quase impossível porque a amostra que batizou a espécie está guardada na Europa”.

Os pesquisadores alertam para a necessidade de preservação desse ecossistema, o segundo maior do Brasil, do qual, em São Paulo, restam apenas 7% da área original: a maioria das espécies de Cerrado só sobrevive em seu próprio hábitat, já que ainda não se sabe como cultivar em viveiros grande parte delas.

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