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Carreiras

O russo que sonha em mudar a saúde no Brasil

Economista encontrou na ciência apoio e método para empreender

Léo Ramos Chaves Michael Kapps: empreendedorismo baseado em conhecimento científicoLéo Ramos Chaves

Foram necessários apenas três anos para o economista russo Michael Kapps, de 29 anos, deslanchar seu primeiro empreendimento: uma plataforma de gestão de saúde populacional. Formado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, seu primeiro “laboratório” foi o município catarinense de Rio Negrinho, com 41.380 habitantes. Foi lá que, em 2015, testou o projeto Tá Na Hora (TNH), um sistema de envio de mensagens telefônicas destinado a aumentar o engajamento em tratamentos de saúde, que hoje atinge 100 mil pessoas em quase todos os estados do país.

“Começamos com mensagens SMS para lembrar as pessoas de tomar o medicamento indicado pelos médicos”, conta Kapps, que escolheu a ferramenta por seu baixo custo. O passo seguinte foi expandir o projeto com o SMSBebê. Mensagens destinadas a gestantes e mães de crianças de 3 três anos transmitiam orientações sobre, por exemplo, a importância do pré-natal.

“O projeto mudou o comportamento das pessoas, mas não aplicávamos métricas nem pesquisas para comprovar sua eficiência. Não tínhamos dinheiro e estávamos quase fechando as portas em 2016”, recorda Kapps, sobre o momento em que decidiu se candidatar ao Grand Challenges Canada, fundo de oportunidades destinado a apoiar “ideias ousadas de grande impacto”, que oferecia auxílio equivalente a R$ 250 mil. Com a proposta aprovada, veio o desafio: evidenciar a eficiência da plataforma. “A cada etapa do projeto SMSBebê precisávamos demonstrar sua eficiência para que a verba fosse liberada.”

O primeiro passo foi estabelecer parceria com uma unidade básica de saúde (UBS) e um hospital de referência de Rio Negrinho. Durante  18 meses, 200 mães receberam mensagens e foram acompanhadas por médicos. “Se comparadas às demais pacientes, as grávidas monitoradas apresentaram os maiores índices de adesão ao pré-natal do hospital”, relata o economista que, encerrado o aporte inicial, passou a ter direito de participar da segunda fase do Grand Challenges Canada, com financiamento de R$ 1 milhão. “Dessa vez, o foco é a saúde da grávida e não da criança”, diz. Durante dois anos, com apoio do fundo, o estudo pretende monitorar 500 mulheres atendidas em várias UBS de cidades carentes de Alagoas.

“Se não fosse a exigência do fundo, de demonstrar cientificamente o resultado do monitoramento dos pacientes, dificilmente eu teria descoberto um modelo de empreendedorismo eficiente”, avalia Kapps, que nasceu na Rússia e aos 5 anos se mudou com a família para o Canadá. Em 2011, durante férias na universidade, soube que havia um emprego de vaqueiro no Pantanal e decidiu conhecer o Brasil – acabou permanecendo quase seis meses. De volta aos Estados Unidos, concluiu a graduação e trabalhou em uma grande consultoria. Atendia a indústria farmacêutica e hospitais antes de decidir se mudar para o país. Hoje, a TNH Health tem 25 funcionários e ampliou suas ferramentas de comunicação. “Até o fim do ano pretendemos atender 1 milhão de pessoas.”

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