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O terena que chegou longe

Num momento em que o país discute políticas de cotas para minorias, vale a pena prestar atenção na trajetória do índio terena Rogério Ferreira da Silva. Aos 34 anos de idade, ele é um raríssimo exemplo de indígena que fez carreira acadêmica até o doutoramento. Formado em agronomia e mestre em Ciências do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, deve concluir em 2006 seu doutorado na Universidade Estadual de Londrina.

Ele pesquisa organismos com mais de 2 milímetros de diâmetro da fauna invertebrada em solos submetidos a plantio direto. A carreira de Rogério é marcada por lances de obstinação – mas também de muita sorte. Na adolescência, deixou sua aldeia em Miranda, Mato Grosso do Sul, para fazer um curso técnico agrícola numa escola de Cuiabá.

Conseguiu a vaga graças à Funai, que convenceu a escola a reservar uma cota para indígenas. Quando concluiu o ensino médio, decidiu acompanhar um grupo de colegas de formatura (nenhum deles de sua etnia) ao Rio de Janeiro, para tentar o vestibular da Universidade Federal Rural no município fluminense de Seropédica. Foram todos de ônibus.

Rogério fez as provas e, em vez de voltar com os amigos, arrumou um lugar na própria universidade para dormir, enquanto esperava o resultado final. Acabou reprovado. Sem dinheiro para voltar, foi pedir ajuda à Funai. Teve seu grande momento de sorte. Uma professora da Universidade Federal foi acionada pela Funai para ajudá-lo a voltar.

Impressionada com a obstinação do rapaz, ela lhe propôs trabalho. Durante um ano, Rogério cuidou de um sítio da professora, enquanto se preparava para o próximo vestibular. Passou e deu início a sua carreira universitária. Depois de viver dez anos no Estado do Rio, Rogério voltou ao Mato Grosso do Sul em 2001.

Ele faz sua pesquisa numa unidade da Embrapa em Dourados, que tem ligação com a Universidade de Londrina. Solteiro, volta todos os meses à aldeia onde os pais vivem e tornou-se uma espécie de ídolo dos adolescentes locais. “Noutro dia, um garoto da aldeia ligou me convidando para ir à formatura dele. Disse que queria chegar aonde eu cheguei”, ele diz.

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