A perda de olfato (anosmia) que afeta até dois terços das pessoas infectadas com o Sars-CoV-2 é consequência tanto da ação direta do vírus quanto da inflamação por ele disparada no sistema olfatório, constatou uma equipe de pesquisadores da França, da qual participa o brasileiro Guilherme Dias de Melo, pesquisador de pós-doutorado no Instituto Pasteur, em Paris.
Eles analisaram amostras do epitélio olfatório (tecido responsável pela percepção de odores que reveste o fundo do nariz) de sete pessoas com anosmia associada à infecção pelo novo coronavírus e constataram que o Sars-CoV-2 infecta os neurônios que detectam moléculas de odor, as células que os auxiliam e ainda células de defesa. A infecção leva à morte de parte das células do epitélio olfatório, e a multiplicação do vírus causa inflamação local e desorganização do epitélio (Science Translational Medicine, 3 de maio).
Experimentos com hamsters revelaram ainda que o vírus invade o bulbo olfatório, o primeiro centro de processamento de informações sobre cheiros, além de outras áreas cerebrais. “Observamos que o Sars-CoV-2 infecta não apenas os neurônios sensoriais, mas também o nervo olfatório e os centros nervosos olfatórios do cérebro”, contou Pierre-Marie Lledo, coautor do estudo e pesquisador do Pasteur e do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, em um comunicado à imprensa. “Uma vez no bulbo olfatório, o vírus se espalha para outras estruturas nervosas, nas quais induz uma grande resposta inflamatória”, explicou Hervé Bourhy, também do Pasteur.
O vírus pode permanecer no epitélio olfatório das pessoas que apresentam um quadro de anosmia persistente. Até recentemente havia dúvida se o vírus desempenhava um papel direto na perda do olfato, então atribuída ao inchaço (edema) passageiro do tecido que reveste o nariz internamente.
Íntegra do texto publicado em versão reduzida na edição impressa, representada no pdf.
Republicar