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Demografia

Somos 203 milhões de pessoas no Brasil

Censo Demográfico de 2022 revela que taxa média de crescimento anual da população foi menor do que 1% pela primeira vez na história

Léo Ramos Chaves/ Revista Pesquisa FAPESP

Previsto para acontecer em 2020, o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) saiu a campo dois anos mais tarde, em agosto de 2022. Marcado por dificuldades impostas pela pandemia, cortes de orçamento e eleições presidenciais, o levantamento, que fornece dados essenciais à formulação de políticas públicas e contribui para estudos científicos (ver Pesquisa FAPESP nº 305), acaba de anunciar seus primeiros resultados. Um deles revela que a taxa de crescimento populacional do Brasil registrada no intervalo de dois censos é a menor desde 1872 (ver gráfico abaixo: Avanço populacional desacelera). Além disso, as capitais também observam uma tendência de decréscimo ou um avanço menos acelerado na quantidade de moradores. Por outro lado, o número de domicílios aumenta em ritmo acentuado, registrando uma expansão média de 34%, se comparado com os valores do Censo anterior, realizado em 2010.

A população do Brasil em 2022 era de 203,1 milhões de pessoas, o que representa um avanço de 6,5% em relação aos números de 2010. Ou seja, a edição atual contabilizou 12,3 milhões de pessoas a mais do que o levantamento feito na década passada. Esses números diferem de projeções divulgadas pelo próprio IBGE em 2021, quando se estimava que a população residente no país naquele ano era de 213,3 milhões de pessoas. Durante coletiva de imprensa realizada na última segunda-feira, 26 de junho, o estatístico Cimar Azeredo Pereira, presidente interino do IBGE, explicou que a diferença do número real em relação à projeção populacional ocorreu porque o país não atualizou a contagem de seus habitantes em 2015, conforme previsto. Em 1996, o IBGE passou a realizar a contagem da população em períodos intercensitários, como forma de manter atualizada sua base de dados. Por conta de problemas orçamentários, a edição de 2015 não aconteceu. Nesse sentido, Pereira enfatizou a necessidade de o país realizar a contagem em 2025. “Essa medida é essencial para que gestores elaborem e aperfeiçoem políticas públicas e se preparem para enfrentar situações de emergência. Em 2020, a pandemia, por exemplo, atingiu o país em um momento de apagão de dados. Seus efeitos teriam sido mais brandos caso contássemos com uma base atualizada da quantidade de habitantes”, afirma.

Alexandre Affonso/ Revista Pesquisa FAPESP

Outro dado importante revelado pelo atual Censo é que, de 2010 a 2022, a taxa média de crescimento anual da população do país foi de 0,52%, o que representa o menor aumento desde o primeiro Censo do Brasil, realizado em 1872. Até hoje, foram realizadas 12 edições do levantamento, que ocorre a cada 10 anos.

Os resultados mostram, ainda, que a região Sudeste tem hoje 84,8 milhões de habitantes, ou 41,8% da população total do país. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os três estados mais populosos, concentrando 39,9% dos moradores. Já a região menos populosa é a Centro-Oeste, com 16,3 milhões de habitantes, ou 8,02% da população do país. No estado de São Paulo, foram recenseadas 44,420 milhões de pessoas, que representam um quinto da população brasileira e é quase equivalente à população da Argentina (cerca de 46 milhões de pessoas, conforme o Censo Nacional de População, Domicílios e Habitação de 2022). Em todo o país, o Censo registrou maior concentração da população em regiões litorâneas, em comparação com os dados de 2010.

Alexandre Affonso/ Revista Pesquisa FAPESP

Em 2022, as concentrações urbanas, ou seja, arranjos populacionais que congregam mais de 100 mil habitantes, abrigavam 124,1 milhões de pessoas. Nesse ano, 44,8% das cidades brasileiras tinham até 10 mil habitantes, mas apenas 6,3% da população do país, ou 12,8 milhões de pessoas, vivia em municípios desse porte. Cerca de 29% da população do país mora em 41 cidades com mais de 500 mil habitantes – os municípios desse porte respondem por 0,74% do total de cidades brasileiras, que é de 5.570. Dentre os 10 municípios mais populosos, cinco perderam habitantes entre 2010 e 2022: Rio de Janeiro, onde a queda populacional foi de 1,7%; Fortaleza (-1,0%); Salvador (- 9,6%); Belo Horizonte (- 2,5%); e Recife (- 3,2%). Por outro lado, João Pessoa teve o maior aumento da população no período, com um crescimento de 15%, seguido por Manaus (14,5%). Já São Paulo e Curitiba registraram crescimento tímido da quantidade de residentes, enquanto as cidades de seus entornos observaram avanços mais altos. “Em quase todas as capitais brasileiras percebe-se desaceleração no crescimento ou mesmo perda de população. Isso espelha um fenômeno observado em outros países e pode estar relacionado com o esgotamento da ocupação desses territórios”, avalia Pereira.

Entretanto, a quantidade de domicílios do país cresceu, em média, 34% desde 2010 e atingiu todos os estados. No total, foram contabilizados 90,7 milhões de domicílios. A edição de 2022 constatou que os domicílios particulares permanentemente vagos aumentaram 87%, chegando a 11,4 milhões, enquanto os de uso ocasional cresceram 70% ao longo desses 12 anos, totalizando 6,7 milhões. O conglomerado urbano que envolve as cidades de Caraguatatuba e Ubatuba, no litoral paulista, tradicional região de veraneio, registrou um dos maiores percentuais de crescimento de domicílios de uso ocasional de todo o país. Já São Paulo, como a cidade mais populosa do Brasil, registra a maior quantidade de domicílios, ou seja, 4,9 milhões. Em comparação com 2010, o avanço no município foi de 27%.

Alexandre Affonso/ Revista Pesquisa FAPESP

A média de moradores por domicílio foi de 2,79, número mais baixo do que a média de 2010, de 3,31 moradores. Por sua vez, a densidade demográfica média foi estimada em 23,8 habitantes por quilômetro quadrado (km²). Porém essa densidade segue desigual entre as regiões. Enquanto no Norte, que responde por 45,2% do território do país, a densidade é de 4,5 habitantes por km², no Sudeste, região mais populosa, o valor equivalente é de 91,8 habitantes.

De agosto de 2022 a maio de 2023, a equipe de recenseadores coletou dados de 106,8 milhões de endereços. “Diante de inúmeros desafios, o IBGE teve de se reinventar para realizar o Censo. Uma das medidas tomadas foi a modernização da coleta e do processamento de dados”, afirmou Pereira, durante coletiva de imprensa. Assim, o instituto incluiu chips para captação de coordenadas de geolocalização em equipamentos de coleta. Essas informações deram origem a mapas que oferecem retratos pioneiros de como o território brasileiro está atualmente ocupado. Segundo o estatístico Luciano Tavares Duarte, gerente de projeto do IBGE, a ocupação do país é heterogênea, com concentrações urbanas muito distintas. “Enquanto em Brasília identificamos uma ocupação espalhada, em Salvador, observamos o adensamento da área litorânea. Já em Porto Alegre, notamos uma presença mais intensa da população em zonas rurais, enquanto em Manaus as pessoas se concentram em margens de rios e eixos de rodovias”, informou, durante a reunião com jornalistas.

Em relação à taxa de não resposta, ou seja, domicílios ocupados nos quais os moradores deixaram de responder aos questionários, a média brasileira foi de 4,23%. “Dentro desse conjunto, 1,4% corresponde a moradores que se recusaram a prestar informações para os recenseadores, enquanto os outros podem ter deixado de atendê-los por razões diferentes, como estar ausente de casa”, diz Pereira. Em 2022, São Paulo registrou a maior taxa de não resposta do país, com um percentual de 8%, sendo que 2,3% dos domicílios do estado se recusaram a prestar informações para o levantamento demográfico. No Censo de 2010, a taxa média nacional de não resposta foi de 1,5%.

Alexandre Affonso/ Revista Pesquisa FAPESP

Durante a coletiva de imprensa, Pereira explicou que no início de 2023 o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) liberou R$ 350 milhões em recursos extras para aprimorar o recenseamento de áreas com altos níveis de não resposta, como favelas e terras indígenas. Segundo ele, por meio do trabalho realizado em conjunto com organizações como a Central Única das Favelas (Cufa), foi possível recensear 2 milhões de pessoas em cerca de cinco meses, em diferentes comunidades do Brasil. Pereira não confirmou a quantidade de pessoas recenseadas em favelas em 2022, mas lembrou que o número registrado em 2010 foi de 11 milhões de moradores nessas áreas. Ao citar a importância do Censo para a gestão pública, Pereira destacou que em fevereiro deste ano, quando desastres causados por chuvas torrenciais no litoral norte de São Paulo resultaram na morte de 40 pessoas (ver Pesquisa FAPESP nº 326), informações levantadas pelo IBGE na região foram repassadas ao governo do estado, como forma de apoiar o desenvolvimento de políticas à população afetada.

Segundo Pereira, atualmente, 350 especialistas do IBGE estão trabalhando com o processamento e a análise dos dados coletados. Equipes de demógrafos, geógrafos, estatísticos e geocientistas preparam relatórios para analisar de forma aprofundada as informações trazidas pelo Censo de 2022. Os resultados devem ser divulgados de forma periódica, nos próximos meses. A expectativa, ainda sem confirmação do IBGE, é de que em julho sejam publicados os dados referentes às populações indígenas e quilombolas.

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